ZAPATERO DIZ QUE É PRECISO OUVIR OS MANIFESTANTES DAS PORTA DO SOL
Por Isabel Gorjão Santos
A Junta Eleitoral proibiu as manifestações mas milhares de pessoas não lhe deram ouvidos e juntaram-se na Porta do Sol, em Madrid. O primeiro-ministro espanhol, José Luis Zapatero, já veio dizer que “é preciso ouvir” os manifestantes.
Nem a chuva nem a decisão da Junta Eleitoral, que proibiu os protestos com o pretexto de não afectar a campanha para as eleições regionais e municipais marcadas para o próximo domingo, travaram os manifestantes que se juntaram na Porta do Sol em Madrid. Os protestos terão surpreendido o Governo e a classe política. Pela primeira vez, Zapatero referiu-se ao movimento que já se alastrou a várias cidades. “É preciso ouvir, é preciso ser sensível porque há razões para esse descontentamento e essas críticas”, disse o primeiro-ministro espanhol à Telecinco.
E o que se tem ouvido nas ruas é “Democracia Real Ya!”. Milhares de pessoas pedem novas soluções num país onde o desemprego é de cerca de 21 por cento, com uma taxa ainda mais elevada entre os mais jovens. “Temos de fortalecer, melhorar em tudo o que é a causa dos países que conseguiram maiores quotas de liberdade, que são democráticos, com uma democracia representativa e com partidos”, adiantou Zapatero, citado pelo “El País”.
O movimento 15-M, como é agora conhecido, tomou as praças de várias cidades espanholas. Há quem também lhes chame “os indignados”. São jovens que não conseguem empregos, ou pessoas mais velhas que viram degradar-se as suas condições de vida. “Ainda estamos a viver com os nossos pais ou estamos a ter problemas com as nossas hipotecas. Muitos têm filhos”, disse à AFP Pedro Muñoz, um dos manifestantes na Porta do Sol. A vaga de protestos poderá traduzir-se no domingo num mau resultado para o Partido Socialista, no poder.
O movimento garantiu que não acataria a proibição da Junta Eleitoral. Em Espanha discute-se agora a legalidade da manifestação, e o “El País” recordou que, no ano passado, uma decisão do Tribunal Constitucional permitiu a realização de protestos em período eleitoral quando a sua capacidade de influenciar o eleitorado fosse “remota” e não fossem efectuados apelos ao voto no período de reflexão, uma decisão que deita por terra a proibição decretada pelo Junta Eleitoral. De qualquer forma, e independentemente do debate sobre a legalidade do seu protesto, o objectivo dos organizadores da manifestação é permanecer na rua até domingo, ou mesmo para além disso.
A Junta Eleitoral deverá reunir-se ainda nesta quinta-feira para decidir se os manifestantes deverão ser desmobilizados sábado, o dia de reflexão. Para já, as tendas e sacos-cama continuam estendidos.
O ministro do Interior, Alfredo Pérez Rubalcaba, disse poucos antes de uma tomada de decisão por parte da Junta Eleitoral que a polícia esta no local das manifestações para resolver problemas e não para os criar. “A filosofia da polícia é sustentada em três normas de funcionamento: actuações congruentes, oportunas e propositadas”, adiantou ao “El País”.
Na Porta do Sol, o acampamento está cada vez melhor organizado. Depois de uma noite de chuva, pela manhã houve quem começasse a retirar os cartões empapados e a distribuir café ou churros. A mobilização estendeu-se a outras cidades e juntou, segundo o diário espanhol, cerca de 800 pessoas em Bilbao, mil em Valência, 500 pessoas em Sevilha e outras centenas de pessoas em Granada, Santiago, Vigo ou Pontevedra.
Quem decidiu não acampar na Porta do Sol tem ajudado quem está a dormir na rua e os vizinhos têm até recolhido o lixo que se vai acumulando. Segundo o “El Mundo” quem acabou por dispersar foi a polícia, que acabou, ao longo da noite, por libertar o acesso das ruas que iam dar à praça.
Ana é uma escritora e editora galega de 33 anos e contou ao “El Mundo” como se emocionou quando ali chegou e se apercebeu da natureza positiva e pacífica daquele protesto. Diz que vai ficar até ao fim: “Esta é uma maneira de mostrarmos que queremos outros valores”.
E José Antonio, espanhol a residir em Bruxelas, com 59 anos, diz que pediu 15 dias de licença no trabalho para se juntar aos protestos. “Já estive em muitas revoluções. Mas esta é a melhor da minha vida”.
Óscar Rivas, um dos organizadores, afirma que o colectivo prepara uma comunicação escrita e admite que o fim do protesto já não será o dia 22, dia de eleições em Espanha. “Queremos uma mudança política, social e económica. Acreditamos que é possível outro mundo”. E querem ficar ali até que isso aconteça.
FONTE: http://www.publico.pt/Mundo/zapatero-diz-que-e-preciso-ouvir-os-manifestantes-das-porta-do-sol_1494983?p=2