THABO MBEKI NA COSTA DO MARFIM PARA MEDIAR CRISE POLÍTICA
THABO MBEKI NA COSTA DO MARFIM PARA MEDIAR CRISE POLÍTICA
O antigo Presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, enviado da União Africana, já se encontra em Abidjan para mediar a crise política decorrente das eleições para a presidência da Costa do Marfim, a 28 de Novembro, cujos resultados foram invalidados pelo Conselho Constitucional.
No sábado, os dois candidatos que se defrontaram na segunda volta eleitoral reclamaram vitória e tomaram posse como Presidente. Laurent Gbagbo, no poder desde o ano 2000, foi indigitado por decisão do Conselho Constitucional, dirigido por um dos seus apoiantes. E o seu rival Alassane Ouattara, que de acordo com a contagem da comissão eleitoral independente liderava com 51,4 por cento dos votos.
Uma situação inusitada que estabelece dois executivos paralelos mas, na prática, deixa a Costa do Marfim sem um chefe de Estado e de governo.
A União Africana avisou que a crise pode ter “consequências incalculáveis”. A Costa do Marfim é um país profundamente dividido na sequência de uma guerra civil em 2002: não só geograficamente (Norte vs Sul), como também pela religião (muçulmanos contra cristãos). A confusão decorrente do acto eleitoral só vem aprofundar esta cisão, e reavivar o espectro da violência.
Em comunicado, a União Africana apelou à calma e responsabilidade dos dois concorrentes e seus apoiantes, sublinhando que ambos os lados devem “abster-se de tomar qualquer iniciativa que possa exacerbar a frágil situação”. A organização rejeitou ainda “qualquer tentativa para criar um facto consumado que ponha em causa o processo eleitoral e a vontade expressa da população”.
A comunidade internacional não reconheceu a posse de Laurent Gbagbo, que ontem se envolveu na bandeira da Costa do Marfim durante a cerimónia de posse, no Palácio Presidencial. Na sua intervenção, Gbagbo criticou a “ingerência política” de países estrangeiros e frisou que nunca tinha pedido aos líderes internacionais para lhe darem posse.
Mas horas mais tarde Alassane Ouattara informava a imprensa que também tinha tomado posse como Presidente num hotel da capital, acrescentando que a sua primeira medida foi nomear o primeiro-ministro Guillaume Soro – um antigo guerrilheiro que ocupou o cargo no governo de unidade de Gbagbo, do qual se demitiu em apoio de Ouattara.
A Organização das Nações Unidas, que mantém uma missão na Costa do Marfim, assim como a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional consideraram Alassane Ouattara o “legítimo vencedor” da eleição.
A embaixada da África do Sul confirmou a chegada de Thabo Mbeki a Abidjan no domingo de manhã. O antigo Presidente está no país para tentar replicar a sua anterior experiência de mediador das duas facções em conflito: em 2007, ele negociou um acordo de paz que abriu a porta ao estabelecimento de uma missão de estabilização das Nações Unidas. Mas desta vez a sua margem de manobra pode estar diminuída, uma vez que a oposição contesta a alegada “proximidade” de Mbeki a Laurent Gbagbo.
O mandato de cinco anos de Laurent Gbagbo expirou em 2005, mas o Presidente manteve-se no poder depois de várias tentativas de realizar eleições. Depois de sucessivos adiamentos, o acto eleitoral foi marcado para Outubro, com a segunda volta a acontecer no fim de Novembro.
Esta foi a primeira vez que Alassane Ouattara, um antigo economista do Fundo Monetário Internacional e primeiro-ministro da Costa do Marfim de 1990 a 1993, foi autorizado a candidatar-se. Nas eleições de 2000, a sua candidatura fora excluída no meio de acusações de que ele não era marfinense mas antes que a sua família tinha origem no Burkina Faso.
Os apoiantes de Ouattara, sobretudo concentrados no Norte, predominantemente muçulmano e território dos grupos rebeldes, ameaçam pegar em armas em protesto pelo resultado das eleições. Laurent Gbagbo tem o suporte do chefe das Forças Armadas. A tensão é de tal maneira palpável que os observadores temem o início de uma nova guerra civil.
Durante a semana, quatro pessoas morreram em escaramuças na capital. As ruas de Abidjan foram tomadas por protestos, com manifestantes a denunciar a reinvestidura de Gbagbo como um golpe de Estado.
As fronteiras do país foram fechadas e o recolher obrigatório foi imposto para as sete da tarde. A emissão de cadeias internacionais de notícias foi interrompida, e os marfinenses só têm acesso à versão dos acontecimentos das estações estatais, comandadas por Laurent Gbagbo.O Departamento de Estado norte-americano desaconselhou os cidadãos dos Estados Unidos a viajar para a Costa do Marfim, evocando uma “probabilidade acrescida de violência”. “Recomenda-se que as viagens para a Costa do Marfim seja evitadas neste momento”, diz um comunicado do departamento de Estado, que também pediu aos americanos que já se encontram naquele país para “limitar as suas deslocações e circular com extrema prudência”.
FONTE: http://www.publico.pt/Mundo/thabo-mbeki-na-costa-do-marfim-para-mediar-crise-politica_1469553