SEM TETO SÃO RETIRADOS DE CASAS DO RESIDENCIAL NOVA ERA II, EM RIBAMAR

SEM TETO SÃO RETIRADOS DE CASAS DO RESIDENCIAL NOVA ERA II, EM RIBAMAR

Janice Lima

Chegou ao fim a reintegração de posse noResidencial Nova Era II, na região de São José de Ribamar. A operação, iniciada na terça-feira (1º), recomeçou ontem por volta de 6h. Cerca de 250 policiais militares conduziram a retirada de centenas de famílias das 300 casas ocupadas. Um misto de choro e indignação tomou conta das pessoas. Gritos foram ouvidos de alguns moradores que ainda recusavam-se a sair, ou pediam mais tempo para que seus poucos bens não fossem colocados no meio da rua. Entre lama, esgoto, lixo; e sob a chuva que insistia em cair, um congestionamento de carroças e veículos de frete se formou.

Do lado de quem já havia acatado a decisão, o semblante de tristeza era aparente. “Vou com minha esposa e filha [de um ano e dez meses] morar de favor com minha irmã em Ribamar, temos que ir, é o único jeito”, lamentou o pedreiro, José Rosa Filho, de 24 anos. Inconformada em ter que mudar com mais seis pessoas de sua família, a agente de saúde, Darcires de Fátima, dizia estar sendo impedida de levar o que é seu por direito na mudança. “O oficial de justiça não permitiu que tirássemos nada daqui, nosso material de construção, nada do que nós investimos e compramos”.

Entre as pessoas que estavam sendo despejadas, famílias de operários afirmam estar na casa como forma de pagamento que não foi feito pela Cooperativa Habitacional do Grupo Comunitário Independente (COOPHAB – GCI) cujos associados são em tese os beneficiados com a reintegração de posse. “Somos diferentes, moramos há 2 anos aqui, bem antes desta ocupação. Meu marido trabalha na construção destas casas e está com o pagamento atrasado, a nossa foi cedida pela Ozinete Lisboa, que nos garantiu um teto, e agora temos que sair. E meu marido continua trabalhando na construção mesmo sem receber”, disse Joana da Silva, 53 anos, reclamando o pagamento supostamente atrasado há seis meses de seu marido, o pedreiro de 60 anos, José de Ribamar.

A Comissão de Direitos Humanos da OAB e a União de Moradia Popular esteve presente para garantir a ordem da operação, mas,  lamentam que a Prefeitura de São José de Ribamar não tenha dado nenhum apoio. “A comunidade está consciente de que precisa fazer a desapropriação, estamos aqui para garantir a desapropriação seja feita sem violência. Gostaríamos que tivesse algum representante da Prefeitura de São José de Ribamar para que fosse proposto a possibilidade de uma aluguel social, ou, a prioridade no cadastro do Programa Minha Casa Minha Vida”, disse o representante da CDH/OAB, Rafael Silva.

Por sua vez, a representante da União de Moradia Popular, Creusamar de Pinho, afirmou que prefeitura deveria ter marcado presença para mediar o diálogo entre os grupos que disputam os imóveis.  “Acredito que a Prefeitura de Ribamar deveria ter comparecido, estabeleceu-se aqui uma guerra de pobres contra pobres, um luta por um teto”.
A assessoria de Imprensa da Prefeitura de São José de Ribamar informou que a responsabilidade sobre os imóveis do Residencial Nova Era II é do programa Crédito Solidário da Caixa Econômica Federal. E ainda que em nenhum momento foi procurada pelos sem teto para tratar da situação. Sobre o Minha Casa Minha Vida, a assessoria informou que o município foi beneficiado com 13 mil habitações do programa federal e que fez o cadastramento das famílias interessada ano passado. A seleção das famílias conforme os critérios do programa, o posterior sorteio dos imóveis e entrega são de responsabilidade da Caixa. 

O comandante de Policiamento Metropolitano (CPM), coronel Jefferson Telles garantiu que a decisão de reintegração de posse deve ser cumprida. Ele conseguiu a cooperação da maioria dos sem teto. “Uma ordem judicial é inegociável, a tropa está aqui para dar garantia ao mandado, não cabe a nós discutir filigranas judiciais, contamos com a colaboração dos ocupantes que até o presente momento, a maioria não relutou em sair”.
Do lado dos sem teto, após ameaças de resistência, o jeito foi ceder, mas não sem fazer acusações. “Já percebemos que não temos mais condições de manter a ocupação, já sabemos que existe gente grande por trás desta cooperativa. Não queremos confusão com a polícia, só queríamos um destino digno, que por enquanto, vai ser um barracão improvisado”, afirmou Severino de Jesus, representante do Centro Social Comunitário da Cidade Olímpica.

A representante Ozinete Oliveira Lisboa, que manteve-se distante da ocupação por medo de represálias, afirma que seu grupo também está unido esperando apenas uma ordem para ocuparem seus imóveis. “A operação está sendo concluída, graças a Deus, de forma pacífica, e logo após a reintegração, com a ordem do coronel Jefferson Telles, todos nós iremos nos unir para que de fato o Residencial volte a ser nosso”.
Quanto aos pagamentos atrasados, Ozinete Lisboa admite que muitos estão irregulares, mas que a grande maioria foi embargada pela Caixa Econômica, por conta da invasão, que comprometeu o andamento da obra.

FONTE: http://www.oimparcialonline.com.br/noticias.php?id=71431

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