Rio faz passeata ‘oficial’ contra divisão de royaties de petróleo
Rio faz passeata ‘oficial’ contra divisão de royaties de petróleo
Alexandre Rodrigues e Sergio Torres, da Agência Estado
Determinados a evitar a divisão dos royalties da produção de petróleo, o governo do Estado do Rio e as prefeituras do interior assumiram o caráter “oficial” da passeata que parou o centro da capital fluminense nesta quinta-feira. O governador Sérgio Cabral e prefeitos patrocinaram abertamente a ida de boa parte dos 100 mil manifestantes (nas estimativas do governo), à Cinelândia, onde um ato público foi realizado após marcha pela Avenida Rio Branco, mas não informaram quanto dinheiro público foi gasto.
As repartições públicas estaduais e municipais na capital tiveram ponto facultativo e várias empresas foram incentivadas pela Federação das Indústrias do Rio (Firjan) a liberar seus funcionários mais cedo. Até a Agência Nacional de Petróleo (ANP), responsável pela regulação e recolhimento dos royalties, dispensou os funcionários às 13h.
Outras instituições federais, como o Inmetro, seguiram o exemplo. A Petrobrás, que tem sede próximo ao local da manifestação, preferiu não liberar os funcionários, apenas distribuiu orientações sobre o trânsito.
Só a cidade de Macaé, no Norte Fluminense – que sedia a maior parte da indústria que explora o petróleo da Bacia de Campos – enviou mais de 7 mil pessoas em 180 ônibus. Usando camisetas com inscrições “em defesa do Rio”, eles enfrentaram cinco horas de viagem alimentados com quentinhas e sanduíches distribuídos pela prefeitura.
Em esquema parecido, a vizinha Campos dos Goytacazes estava preparada para enviar 4 mil manifestantes, mas houve reclamações de que o governo do Estado teria mandando menos ônibus do que os cem prometidos. No Centro, as caravanas das duas cidades que mais recebem royalties no Rio se juntaram a participantes enviados por outras beneficiárias da tributação, como Maricá, Rio das Ostras, Cabo Frio, Arraial do Cabo.
Também houve adesão de prefeitos aliados de Cabral na Baixada Fluminense. Manifestantes de Quissamã usavam camisetas cobrando a manutenção do caráter compensatório dos royalties na inscrição: “O impacto é nosso, os royalties também”.
Servidores de Macaé contaram que o prefeito Riverton Mussi condicionou o ponto facultativo ao embarque nos ônibus em direção ao Rio. Quem faltasse à passeata ou ao trabalho teria o dia descontado. Estudantes de colégios estaduais, que engrossaram a manifestação, também contaram que foram orientados pelos diretores a trocar as aulas pelo ato.
Os participantes da região metropolitana puderam embarcar em direção ao centro do Rio de graça em trens, barcas e metrô, cujas concessões foram renovadas por Cabral. A concentração estava marcada para as 15h, mas já no início da tarde o trânsito foi desviado e agentes com coletes da Secretaria Estadual de Governo distribuíam bandeiras do Rio, bonés e camisetas com a frase “Contra a injustiça, em defesa do Rio.”
Centenas de banheiros públicos foram espalhados pela Avenida Rio Branco no percurso da passeata até a Cinelândia, onde um grande palanque foi montado. O clima na avenida, uma das principais vias do Centro, era de carnaval fora de época, com ambulantes vendendo cerveja, carros de som tocando sambas-enredo, bandeiras e chuva de papel picado. Pela praça foram espalhadas faixas publicitárias, caixas de som e telões digitais.
Contra o ato
Cerca de 120 manifestantes do Movimento Ocupa Rio resolveram protestar contra o Ato liderado pelo governador Sérgio Cabral na Cinelândia, centro do Rio de Janeiro, contra o projeto de redistribuição dos royalties do petróleo. Com rosas nas mãos e faixas, os jovens, alguns de nariz de palhaço, se posicionaram em um dos lados da praça para gritar palavras de ordem contra o governador.
“Este governo não nos representa”, dizia um dos cartazes. A frase também era repetida pelos manifestantes e em folhetos improvisados pelo grupo, que cobravam do governador o enfrentamento de prioridades sociais como o aumento do salário de professores e policiais.
Acampados na Cinelândia há três semanas, seguindo o movimento americano “Ocupar Wall Street”, os jovens não conseguiram se aproximar do palco onde estava o governador porque o governo do Estado fez uma triagem do público. Apenas os portadores de pulseira brancas podem ficar na área do palco, alguns deles servidores e outros ligados a partidos políticos.
“O governador está escolhendo quem vai aplaudi-lo”, reclamou uma professora de 26 anos que participa do Ocupar Rio. Por princípio, os jovens não têm liderança e não dizem seus nomes. Um biólogo de 22 anos reclamou do uso de dinheiro público para promover a manifestação. “Não queremos discutir a questão dos royalties com alguém que não escuta. Este som é uma tentativa de substituir a voz do povo. Injustiça é a desigualdade do Rio”, afirmou. (Colaboraram Irany Tereza e Kelly Lima)