Reintegração de posse deixa 103 famílias sem teto no Bequimão
Reintegração de posse deixa 103 famílias sem teto no Bequimão
“Acordei com zoada de trator e o povo gritando que as casas estavam sendo derrubadas”. Estas foram às palavras do ocupante Antônio Vieira Leite, de 56 anos. Na manhã de ontem, 24, oficiais de Justiça e cerca de 100 homens da Polícia Militar, comandada pelo major Luis Nogueira, lotado no 8º Batalhão, retiraram mais de 103 famílias, que tinham invadido há mais de dois meses um terreno, localizado na Avenida Jerônimo de Albuquerque, Bequimão, nas proximidades da rotatória do Roque Santeiro.
Segundo informações do major Nogueira, a retirada das famílias foi justamente o cumprimento de uma decisão judicial expedida pelo juiz da 8º Vara Civil do Tribunal de Justiça, Luiz Gonzaga Almeida Silva. O terreno, que mede 7.062 metros, pertence a José Barbosa Teixeira Júnior; Selma Maluf Teixeira e Antônio Chaves. Inclusive, a retirada foi de forma pacífica e não houve nenhuma condução a distrito policial, pois, os ocupantes estavam cientes que estavam no local de forma ilegal. “Antes de ocorrer à operação todos os ocupantes sabiam que não iriam ficar no terreno e houve até uma reunião com eles, na semana passada. No entanto, ninguém foi pego distraído”, frisou o militar.
Um dos proprietários do terreno, José Teixeira, disse que o terreno estava murado e apenas uma parte tinha arame com pedaços de pau. Ainda afirmou que com a saída dos ocupantes, o terreno todo vai ser murado e colocará pessoas da sua confiança para habitar no local. “Devo preservar o meu patrimônio e todo o terreno será murado para isso não ocorrer outras vezes”.
Sem teto
“Vou tentar construir desse lado o meu barraco, pois, não tenho para onde ir e muitos menos morar”, disse Antônio Leite. Segundo ele, estava morando no terreno com a esposa e mais dois filhos pequenos, sendo um com quatro anos e outro de apenas um ano, há mais de dois meses. Antes morava com a família em um quarto, no Bequimão, onde pagava por mês um valor de R$ 300.
A outra ocupante era Ana Tereza Santos, de 22 anos. Ela falou que o seu esposo, José de Ribamar Sousa, 32 anos, está desempregado e não tem condições de pagar um aluguel de um quarto para morar com os filhos. “Estava feliz com o meu barraco aqui e a gora não tenho destino para ir. Na verdade, estou na rua”, lamentou.
Antônio José Silva Santos, 28 anos, falou que restou apenas um sofá velho após a derrubada. “Gastei toda a minha economia para construir o meu barraco, mas, hoje (ontem) foi destruído. Não tenho para aonde ir com a minha esposa, Jarciane Pereira; e os meus dois filhos, um com dois anos e outro, de 5 anos. Apenas Deus sabe do meu destino”. Ele ainda relatou que antes pagava um quarto, no Bequimão, no valor de R$ 350, mas como não estar trabalhando não tem como pagar nenhuma despesa com aluguel de casa.
Vinhais Velho
Policiais militares jogaram spray de pimenta, gás nitrogênio e bombas em cima dos moradores do Vinhais Velho, na tarde de ontem. Era a tentativa de desbloquear a pista interditada pro moradores, que reclamam que os caminhões pesados da empresa Marquise Engenharia estão danificando a área, provocando acidentes e acabando com a história do local, inclusive, com sítio arqueológico. “A polícia não deveria ter feito isso, pois, somos cidadãos e não assaltantes. Estamos aqui para lutar pelos nossos direitos”, disse Maria dos Remédios, 45 anos, moradora do local desde que nasceu no Vinhais Velho.