REGIME SÍRIO VOLTOU A REPRIMIR PROTESTOS
Depois de um fim-de-semana de terror em Latakia, cidade costeira da Síria, onde, nos últimos três dias, 13 pessoas morreram e mais de 185 ficaram feridas, as autoridades sírias continuam a reprimir manifestações, ao mesmo tempo que o Governo anuncia reformas.
Nesta segunda-feira, milhares de pessoas que se manifestavam em Deraa, no Sul da Síria, foram dispersadas por gás lacrimogéneo lançado pela polícia e, segundo testemunhas, foram ouvidos tiros. As autoridades sírias abriram fogo contra os manifestantes que gritavam “queremos liberdade e dignidade” e “não ao estado de emergência”, mas segundo o relato de uma testemunha à Reuters a manifestação ter-se-á reagrupado pouco depois.
Em Latakia, zona onde convivem várias religiões (a maioria é sunita, a elite dirigente é alauíta, há um ramo xiita e ainda cristãos), o banho de sangue do fim-de-semana fez com que a cidade fechasse escolas e lojas e foi descrita por um jornalista à AFP como uma “cidade fantasma”, agora palco de vários funerais.
Mas ao mesmo tempo que as autoridades sírias reprimem manifestações pela liberdade, o Governo de Damasco anuncia medidas de democratização: o fim (sem data prevista) do estado de emergência, em vigor há 48 anos; libertações de presos políticos; um aumento imediato dos salários dos funcionários e medidas anti-corrupção. Tudo reformas que deverão ser apresentadas pelo Presidente “nos próximos dias” e que, segundo o vice-presidente Farouq al-Shara, irão “agradar o povo sírio”.
Durante o impasse, o Parlamento sírio já exigiu ao Presidente al-Assad que viesse explicar as medidas de democratização prometidas: “os deputados pedem esclarecimentos sobre as medidas anunciadas e desejam que o Presidente venha ao Parlamento para as explicar”, disse, nesta segunda-feira, o deputado Mohammad Habache.
Mundo condena violência
Segundo as organizações de direitos humanos, são mais de 130 as pessoas que já morreram na Síria, país que é palco desde dia 15 de Março de uma contestação sem precedente contra o Partido Baas, no poder há 48 anos, e contra Bashar al-Assad, Presidente desde 2000.
A resposta das autoridades sírias às manifestações do seu povo tem sido altamente criticada e condenada pela comunidade internacional. Navi Pillay, a alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, alertou a Síria para o risco de uma “espiral de violência” provocada pela repressão violenta das manifestações e fez um apelo para que as autoridades tirassem lições dos acontecimentos no Magreb e no Médio Oriente. Também a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, condenou neste fim-de-semana a “brutal” resposta das autoridades sírias às “exigências legítimas” dos contestários.
E até a Turquia, para quem a Síria representa um importante mercado, teve uma palavra a dizer sobre a escalada de violência no país vizinho. O primeiro-ministro turco, Tayyip Erdogan, revelou ter pedido, durante este fim-de-semana, ao Presidente sírio Bashar al-Assad que “ouvisse a voz do povo”. E acrescentou: “Temos uma fronteira de 800 quilómetros [com a Síria] e temos relações familiares. Não podemos permanecer calados.” Sobre a conversa com al-Assad, Erdogan revelou que não recebera nenhuma “resposta negativa” quando pediu ao Presidente sírio que ouvisse “a voz do povo” e declarou que esperava que as medidas fossem realmente implementadas “em vez de permanecerem promessas”.
Por outro lado, o Presidente venezuelano Hugo Chávez já disse estar do lado do seu “irmão socialista”.
FONTE: http://www.publico.pt/Mundo/regime-sirio-voltou-a-reprimir-protestos_1487189