Recomeça protesto contra nova mina no Peru
Recomeça protesto contra nova mina no Peru
DA REUTERS, EM LIMA
Cerca de mil pessoas participaram nesta segunda-feira de um protesto contra a futura mina de Conga, um projeto de US$ 4,8 bilhões da mineradora Newmont, que já havia motivado manifestações maiores em dezembro, quando foram reprimidas pelo governo sob a justificativa de que os ambientalistas estavam sendo intransigentes.
A manifestação ocorreu na cidade de Cajamarca. O governo diz que a mina de ouro, numa sociedade da norte-americana Newmont com a peruana Buenaventura, representará o maior investimento já feito na mineração peruana, com a possibilidade de gerar milhares de empregos.
Adversários do projeto alegam, por outro lado, que ele poluirá os mananciais, pois substituirá uma série de lagos andinos por reservatórios artificiais.
O presidente peruano, Ollanta Humala, cujo mandato tem sido marcado por esse impasse, suspendeu temporariamente no mês passado o direito à realização de reuniões públicas, para dissolver o protesto que levou 5.000 pessoas às ruas de Cajamarca.
“Nosso protesto será pacífico”, disse à Reuters Wilfredo Saavedra, diretor da Frente de Defesa Ambiental de Cajamarca.
O governo já tentou várias táticas para eliminar a oposição ao projeto. Na semana passada, ele prometeu que especialistas internacionais irão rever o plano de mitigação ambiental, e que mais dinheiro será investido em obras de infraestrutura em cidades próximas à futura mina.
Outra estratégia do governo foi demonizar os líderes dos manifestantes. No mês passado, Saavedra chegou a ser detido pela polícia antiterror, mas foi libertado sem ser indiciado. No passado, esse advogado passou uma década preso por ligação com o grupo marxista Tupac Amaru, para depois se reinventar como ambientalista.
Promotores peruanos também moveram processo contra o governador da região de Cajamarca, Gregorio Santos. O governo diz que ele extrapolou suas atribuições ao emitir um decreto que proíbe a construção da mina de Conga. O tribunal constitucional do Peru pode derrubar essa medida nos próximos dias.
GESTÃO
Humala, eleito em junho após fazer campanha como esquerdista moderado, reformou seu gabinete em dezembro para enfatizar questões de defesa da lei e da ordem, e para sufocar uma onda de protestos que ameaçam retardar investimentos estrangeiros de US$ 50 bilhões a serem feitos na próxima década no setor minerador peruano.
Críticos dizem que o presidente desviou-se rapidamente para a direita, frustrando o eleitorado de províncias pobres que esperavam rápidas mudanças sob o governo dele. No mês passado, uma pesquisa do instituto Ipsos mostrou que a popularidade de Humala caiu pela primeira vez abaixo de 50%, para 47%.
A Newmont e a Buenaventura suspenderam temporariamente as obras no projeto de Conga no começo do mês.
A Newmont diz que o seu plano ambiental para a mina, aprovada há um ano pelo governo anterior ao de Humala, atende aos mais elevados padrões do setor minerador, e deve assegurar recursos hídricos de qualidade no ano todo. Os moradores temem que falte água nas estações secas.
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1029095-recomeca-protesto-contra-nova-mina-no-peru.shtml