POLÍCIA ENTRA EM CHOQUE COM MILHARES DE MANIFESTANTES NO EGITO
POLÍCIA ENTRA EM CHOQUE COM MILHARES DE MANIFESTANTES NO EGITO
Há relatos de prisões em massa de opositores do governo Mubarak; país estaria sem internet.
BBC
A polícia do Egito entrou em choque nesta sexta-feira com milhares de manifestantes que exigem a saída do presidente Hosni Mubarak, no quarto dia consecutivo de protestos contra o governo. Os choques aconteceram principalmente na capital do país, Cairo, logo após as preces de sexta-feira.
Policiais dispararam bombas de gás lacrimogêneo e usaram canhões d’água para dispersar multidões, que reagiram atirando pedras contra as forças de segurança. Centenas também saíram às ruas das cidades de Suez e Alexandria.
Horas antes do início dos protestos desta sexta-feira, o governo afirmou que estava aberto ao diálogo com a oposição, mas advertiu que tomaria ‘medidas decisivas’. Serviços de internet e de envio de mensagens por celular foram bloqueados. A oposição culpa o governo, dizendo tratar-se de uma tentativa de impedir a organização de novos protestos. As autoridades egípcias negam.
Há relatos de que centenas de integrantes da oposição teriam sido presos durante a madrugada. O principal alvo das prisões teria sido o grupo Irmandade Muçulmana – que foi banido pelo governo.
Na quinta-feira, o líder opositor egípcio Mohamed ElBaradei, ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e prêmio Nobel da Paz de 2005, retornou ao Cairo e prometeu se unir aos protestos desta sexta-feira.
‘Gostaria que não tivéssemos que ir às ruas para forçar o regime a agir’, afirmou ElBaradei ao chegar ao país.
Pelo menos sete pessoas morreram e até mil foram presas desde o início dos protestos, na terça-feira.
As manifestações no Egito foram inspiradas pelos protestos populares na Tunísia que levaram à derrubada do presidente Zine al-Abidine Ben Ali, há duas semanas.
O presidente americano, Barack Obama, descreveu os protestos como o resultado de ‘frustrações reprimidas’ e disse que frequentemente sugeriu a Mubarak realizar reformas.
Obama afirmou ter pedido tanto ao governo quanto aos manifestantes que não recorram à violência.
Sites na internet
Estima-se que as manifestações desta sexta-feira no Egito sejam as maiores até agora. Sites na internet convocaram a população a se juntar aos protestos após as rezas de sexta-feira.
Os organizadores pediram às pessoas que compareçam em peso, afirmando que a religião dos manifestantes não é relevante.
Na noite de quinta-feira, sites como Facebook ou Twitter começaram a apresentar problemas, assim como o envio de mensagens por celular.
Um internauta do Cairo, que pediu para se manter anônimo, disse à BBC que as mensagens de celular não estavam sendo recebidas.
Um advogado da Irmandade Muçulmana disse à BBC que dezenas de seus membros foram presos.
Apesar da proibição oficial, a Irmandade Muçulmana se mantém como o maior e mais organizado movimento de oposição do país.
O presidente Hosni Mubarak, que está no poder desde 1981, não foi visto em público desde o início das manifestações.
A BBC apurou que chefes dos serviços de segurança teriam dito a Mubarak, de 82 anos, que podem conter qualquer excesso nas manifestações desta sexta-feira.
O governo do Egito quase não dá espaço a posições contrárias, e manifestações da oposição são frequentemente proibidas.
Na quinta-feira, o Partido Nacional Democrático, de Mubarak, disse que estava pronto para o diálogo, mas não ofereceu nenhuma concessão aos manifestantes.
Safwat el-Sherif, secretário-geral do partido, disse: ‘O PND está pronto para o diálogo com o público, a juventude e os partidos legais. Mas a democracia tem suas regras e seus processos. A minoria não pode forçar seu desejo sobre a maioria’.
O governo dos Estados Unidos, que tem o Egito como um de seus mais importantes aliados no mundo árabe, vem até agora se mostrando cauteloso em suas observações sobre os protestos.