PAQUISTÃO AVISA EUA QUE QUER RESTRINGIR ACTIVIDADES DA CIA
Por Luísa Teixeira da Mota
O Paquistão quer menos agentes da CIA e menos forças especiais no seu território, tal como uma limitação dos ataques de aviões telecomandados levados a cabo por Washington. Foi este o pedido feito por Islamabad aos EUA, noticiou o jornal norte-americano “The New York Times” nesta segunda-feira.
De acordo com o diário, as autoridades paquistanesas querem 335 agentes da CIA fora do país e o pedido terá sido feito, expressamente, pelo chefe do exército paquistanês, o general Ashfaq Kayani.
De acordo com o “New York Times”, as autoridades de Islamabad vêem em Washington a intenção de neutralizar o arsenal nuclear do país, o que estará na base da sua decisão.
Este pedido acontece numa altura em que o chefe dos serviços secretos paquistaneses (ISI), Ahmad Shuja Pasha, e o director da CIA, Leon Panetta, se reuniram naquela que foi descrita, por George Little, um porta-voz da CIA, como uma discussão “produtiva”.
Também Preston Golson, um outra porta-voz da CIA, referiu à Reuters que Pasha e Panetta tinham tido “discussões produtivas” e que as relações entre CIA e ISI “se mantêm sólidas”.
“Os EUA e o Paquistão partilham vários interesses em comum” e é necessário “continuar a trabalhar em conjunto, incluindo a luta comum contra as redes terroristas que ameaçam ambos os países”, adiantou Golson.
Apesar de os EUA nem sempre confirmarem estar a conduzir operações aéreas com aviões telecomandados, de acordo com vários analistas só as forças americanas têm a capacidade para levar a cabo esse tipo de operações na região.
Caso Raymond Davis
Autoridades americanas e paquistanesas apontam o caso de Raymond Davis como o pano de fundo para o pedido de retirada dos agentes americanos pelo Paquistão. A relação entre os dois países foi abalada pelo homicídio de dois paquistaneses por um americano em Janeiro.
Raymond Davis, que declarava trabalhar na embaixada dos EUA e que depois se disse agente da CIA, matou dois paquistaneses armados na cidade de Lahore, província de Punjab. Segundo os EUA, Davis agiu em legítima defesa reagindo a uma alegada tentativa de roubo.
Apesar de aliados estratégicos na luta contra o terrorismo, EUA e Paquistão começaram a viver um braço-de-ferro desde a detenção de Davis. Em meados de Março, o alegado agente americano foi libertado depois de ter sido acordado em tribunal que pagaria uma compensação aos familiares dos dois paquistaneses mortos.
Nas semanas que se seguiram à libertação foram levadas a cabo várias manifestações por partidos de linha dura religiosa exigindo a punição do agente.
Num sinal de ruptura entre CIA e ISI, uma autoridade paquistanesa revelou ao “New York Times” que o Paquistão está a dizer aos EUA que “ou confiam no ISI ou não confiam e não há meio termo”.
FONTE: http://www.publico.pt/Mundo/paquistao-avisa-eua-que-quer-restringir-actividades-da-cia_1489425