Papademos enfrenta protestos populares após voto de confiança
Papademos enfrenta protestos populares após voto de confiança
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Após obter seu voto de confiança no Parlamento, o novo governo grego de Lucas Papademos enfrenta sua primeira prova de fogo nas ruas de Atenas, onde acontece nesta quinta-feira uma passeata popular em comemoração ao 38º levantamento estudantil contra a junta militar.
De acordo com o planejamento dos organizadores, a marcha partirá às 11h (de Brasília) da Universidade Técnica Nacional de Atenas em direção à embaixada dos Estados Unidos. No local, uma enorme faixa com os dizeres “Pão, educação e liberdade” foi pendurada.
Segundo o Ministério de Proteção ao Cidadão, mais de 7.000 agentes foram desdobrados em Atenas para evitar distúrbios, pois essa tradicional manifestação já se tornou palco de confrontos entre grupos radicais e a polícia.
De acordo com o jornal espanhol “El País”, dezenas de milhares de pessoas são esperadas na manifestação. O ato comemora a revolta universitária contra a Ditadura dos Coronéis em 1973, reprimida violentamente pelo Exército em 17 de novembro.
A data marca anualmente protestos de trabalhadores, estudantes e aposentados contra os líderes políticos e ajustes econômicos. Em anos anteriores, houve conflitos e, em um momento de tensão nacional, as autoridades estão com a atenção voltada ao evento.
Os incidentes mais graves até agora aconteceram em 1980, quando dois manifestantes morreram em um confronto que durou toda a noite e causou várias dezenas de feridos.
Neste ano, a comunidade universitária está profundamente descontente por conta de uma nova lei aprovada no Parlamento em setembro com os votos dos três partidos que integram e apoiam o novo Executivo de Papademos.
A nova legislação reduz drasticamente o poder dos reitores, introduz o financiamento das universidades pelo setor privado e derruba a proibição da presença policial nos campus sem convite prévio das autoridades universitárias.
Além disso, as medidas de austeridade impostas nos dois últimos anos para salvar o país da quebra e receber ajuda externa, assim como as reformas pouco populares anunciadas pelo novo primeiro-ministro com o mesmo propósito, têm provocado um mal-estar social crescente.
“Neste ano, os mesmos senhores que colocam flores para os universitários assassinados em 1973 fizeram ministro o membro de um partido herdeiro daquela junta militar”, disse uma mulher de Atenas citada pelo “El País”.
O secretário-geral do sindicato de trabalhadores do setor privado, Nikos Kioutoukis, afirmou que neste ano a mensagem passada é de que “os gregos não suportam mais a situação atual”.
VOTO DE CONFIANÇA
O novo governo de coalizão da Grécia conquistou ontem, com ampla maioria, o voto de confiança do Parlamento. A moção foi aprovada por 255 deputados e rejeitada por 38 de um total de 300 parlamentares, dos quais 293 participaram da votação.
A aprovação garante o apoio folgado ao novo governo, formado por três partidos –socialista, conservador e ultradireita–, que foi designado na semana passada sob a pressão dos credores da Grécia. Representa também um apoio à promessa de Papademos de acelerar as reformas de longo prazo exigidas para garantir um acordo sobre o plano de resgate do país, que está à beira da falência.
Após a votação, o premiê agradeceu “a todos os deputados que apoiaram o governo e deram um voto de confiança”. “Eu acredito que cada um desses votos representa uma decisão responsável para evitar colocar nossa permanência na zona do euro em risco”, disse.
Antes do voto de confiança, o novo primeiro-ministro solicitou aos deputados que apoiassem a “tarefa titânica” que o Executivo tem para organizar a economia do país evitar a Grécia de sair do euro.
“Cada um dos votos a favor equivale a uma decisão responsável para que não fique em risco a permanência da Grécia na zona do euro e para o progresso da economia”, disse Papademos. “Os problemas piorarão se a Grécia não participar da zona do euro”.
AUSTERIDADE
O mandato do novo governo deverá ratificar o segundo plano de resgate do país, firmado em outubro com os membros da zona do euro. O plano consiste em um novo aporte no valor de 130 bilhões de euros e no perdão de 50% da dívida do país.
Além disso, a Grécia precisará adotar novas medidas de austeridade exigidas pela União Europeia e pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) para liberar até 15 de dezembro a sexta parcela de 8 bilhões de euros de ajuda, referente ao primeiro plano de resgate do país.
Apesar de um acordo fechado entre os dois grandes partidos do país, o socialista Pasok e o conservador Nova Democracia, a presença da extrema-direita no Executivo e a necessidade de o novo governo adotar medidas impopulares de austeridade já gerou críticas entre deputados das duas formações majoritárias.
COMPROMETIMENTO
A zona do euro aumentou a pressão sobre a Grécia para que seus governantes se comprometam por escrito em ratificar o plano de resgate acordado na última cúpula europeia de outubro, condição para que o país receba a ajuda financeira dos credores internacionais.
“A sexta parcela de ajuda à Grécia dependerá da ratificação [por parte de Atenas] das medidas decididas em 26 e 27 de outubro [durante a cúpula europeia] e esperamos uma carta do novo primeiro-ministro grego sobre as intenções exatas das autoridades”, disse o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, ao Parlamento europeu em Estrasburgo.
“Antes do fim do mês, encontraremos uma solução definitiva para a sexta parcela” dos € 8 bilhões de ajuda acertada em maio de 2010, precisou Juncker.
A economia grega se contraiu 5,2% no terceiro trimestre com relação ao mesmo período do ano anterior, o que demonstra o agravamento da crise que o novo governo precisará enfrentar.