PALESTINIANOS ABDICARAM DO REGRESSO DE MILHARES DE REFUGIADOS A ISRAEL
PALESTINIANOS ABDICARAM DO REGRESSO DE MILHARES DE REFUGIADOS A ISRAEL
As polémicas concessões dos líderes palestinianos em relação ao direito de retorno dos refugiados foram hoje divulgada pelo diário britânico “Guardian” e a estação de televisão Al Jazira. Os negociadores concordaram limitar o direito de regresso de apenas 10 mil refugiados e as suas famílias numa população total de mais de cinco milhões, revelam os documentos confidenciais.
Os líderes palestinianos negam as revelações dos 1600 documentos a que a Al Jazira teve acesso e partilhou com o “Guardian”, acusando o Qatar, onde tem sede a estação pan-árabe, de ter uma agenda contra a Autoridade Palestiniana. Escritórios da Al-Jazira foram atacados por apoiantes do Hamas em Ramallah. A emissora nega a acusação, e o diário britânico garante que verificou a autenticidade dos documentos de forma independente e corroborou a sua veracidade com fontes ligadas às negociações, diplomatas e fontes dos serviços secretos.
Os documentos mostram líderes palestinianos fracos fazendo concessões extremamente polémicas para os palestinianos que representam, e líderes israelitas exigindo mais concessões.
Segundo estes documentos, os negociadores palestinianos concordaram ainda com a exigência israelita de se definir com um Estado judaico, contrariamente ao que defendiam em público, já que muitos dos 1,3 milhões de cidadãos árabes de Israel viam essa definição como uma ameaça aos seus direitos – em particular desde que Israel, sob proposta do ministro dos Negócios Estrangeiros Avigdor Lieberman, que hoje está em Lisboa onde terá uma reunião com o seu homólogo português Luís Amado, considerou impor um julgamento de lealdade ao “Estado judaico”.
Outra ideia de Lieberman que parece ter entrado nas negociações foi a de transferência de populações. A então ministra dos Negócios Estrangeiros Tzipi Livni (2008) terá pressionado para que os árabes israelitas fossem incluídos no novo Estado palestiniano como parte de um acordo de troca de território.
Refugiados palestinianos na América Latina
O direito de regresso dos refugiados palestinianos expulsos do recém-criado Estado de Israel em 1948 é visto como essencial por muitos palestinianos e como inaceitável por Israel, que argumenta que os judeus ficariam em minoria. Um compromisso teria de ser atingido, mas a aceitação de um número tão pequeno – regressariam mil por ano durante dez anos – agora revelada causou polémica. Os documentos revelam ainda algumas sugestões criativas, como a da então secretária de Estado dos EUA, Condoleeza Rice: os refugiados poderiam viver na América do Sul. “Talvez pudéssemos encontrar países que pudessem contribuir”, sugeriu: “Chile, Argentina, etc…”
A UNRWA, agência da ONU dedicada à ajuda aos refugiados palestinianos, conta com um registo de mais de 4,7 milhões de refugiados, dos quais quase dois milhões estão na Jordânia em 10 campos de refugiados oficiais, mais de um milhão na Faixa de Gaza em oito campos, 770 mil na Cisjordânia em 19 campos, mais de 470 mil na Síria em nove campos e 420 no Líbano em doze campos.
Os documentos revelam ainda que os EUA afirmaram repetidamente que só financiariam a Autoridade Palestiniana se esta continuasse a ter “as mesmas caras”: Mahmoud Abbas e Salam Fayyad.