OPOSIÇÃO LÍBIA DIZ QUE CIDADE NO LESTE “ESTÁ NAS MÃOS DO POVO”
OPOSIÇÃO LÍBIA DIZ QUE CIDADE NO LESTE “ESTÁ NAS MÃOS DO POVO”
Manifestantes anti-regime tomaram o controlo da cidade Al Beyida, no Leste da Líbia, depois de terem recebido o apoio de alguns elementos da polícia, afirmaram à Reuters dois grupos da oposição no exílio.
“Al Beyida está nas mãos do povo”, disse Giumma el-Omami, líder do grupo Solidariedade para os Direitos Humanos na Líbia. “A cidade está fora do controlo do regime de [Muammar] Khadafi”, adiantou por sua vez Fathi al-Warfali do Comité Líbio para a Verdade e Justiça.
As informações não puderam ser confirmadas, mas terão sido transmitidas às duas organizações por contactos telefónicos a partir de Al Beyida”.
Os comités revolucionários do líder líbio avisaram hoje que estão prontos a responder de forma “violenta e arrasadora” a quaisquer novas manifestações contra o regime, nas quais morreram já pelo menos 24 pessoas sob a acção violenta das forças de segurança.
Pilares do regime, os comités deixaram claro que qualquer ataque às chamadas “linhas vermelhas” – Khadafi, a integridade territorial, o Islão e a segurança do país – será um “suicídio”. Quem o fizer, estará “a brincar com o fogo”. “A resposta do povo e das forças revolucionárias a qualquer aventura por parte destes grupúsculos será violenta e arrasadora”, é asseverado no site do jornal oficial dos comités, o Azzahf Al-Akhdar (Marcha Verde).
De caminho, os comités acusaram o canal Al-Jazira, “e demais vendidos, de andarem contra a corrente”. É graças a Khadafi e à revolução de 1969, que conduziu o coronel ao poder, que “foram feitas coisas gigantescas no país”. “[Khadafi] é o único líder do mundo que recusou ser Presidente, rei ou imperador e deixou nas mãos do povo o poder total”, é ali argumentado.
Formalmente, o líder líbio não é mais do que um “guia” que dá os seus conselhos de governação, com um regime que teoricamente permite ao povo governar por intermédio dos comités revolucionários eleitos por congressos populares que se reúnem anualmente e tomam as decisões que são, então, “direccionadas” para o Congresso do Povo (o Parlamento), a mais alta instância legislativa da Líbia.
Na repressão dos protestos foram mortas desde terça-feira pelo menos 24 pessoas e dezenas de outras ficaram feridas, com as forças de segurança a dispararem sobre os manifestantes que exigem reformas ao regime de Muammar Khadafi, afirmou hoje a organização Human Rights Watch (HRW), citando testemunhas.
Ontem decorreu nas ruas da Líbia o “Dia de Raiva”, cujo impacto o regime do coronel Khadafi se esforçou por diminuir na capital, ao anunciar “grandes mudanças”, incluindo a nível do Governo. Mas noutros locais não controlou a situação e houve confrontos violentos.
Por exemplo, na cidade de Bengasi, bastião da oposição – a cerca de mil quilómetros a leste de Trípoli – um manifestante informou a HRW que homens civis munidos de armas se juntaram às forças de segurança para reprimir as centenas de manifestantes, entre eles inúmeros advogados, que reclamavam uma Constituição. Hoje, o regime líbio reforçou a presença militar em Bengasi, onde milhares de pessoas se manifestaram ontem pela noite dentro.
A cidade está esta manhã calma, sem nenhumas manifestações, descreveu um residente do centro de Bengasi, citado pela agência noticiosa britânica Reuters. “Mas a noite passada foi muito dura, havia muitíssima gente nas ruas, milhares de pessoas. Eu vi os soldados. Ouvi os disparos. Vi uma pessoa cair ao chão [após ser alvejada], mas não sei quantas foram as vítimas”, prosseguiu.
Um pouco por todo o país, as forças de segurança terão disparado, durante os confrontos, balas reais – e não de borracha – contra os manifestantes.
Apesar de os motins não serem inéditos na Líbia, a novidade aqui é o facto de os manifestantes exigirem a destituição de Khadafi, inspirados pelas revoluções da Tunísia e do Egipto, que conduziram à queda de Ben Ali e de Mubarak, respectivamente.
Esta sublevação popular é ainda mais surpreendente quando se percebe a dimensão do “blackout” informativo em que se encontra mergulhado o país.
Esta manhã, o coronel Khadafi – que ascendeu ao poder no golpe militar de 1969 – esteve na Praça Verde, no centro de Trípoli, onde foi rodeado por multidões de apoiantes. Mas não disse uma só palavra
FONTE: http://www.publico.pt/Mundo/oposicao-libia-diz-que-cidade-no-leste-esta-nas-maos-do-povo_1480934