O Pronera no contexto atual
O Pronera no contexto atual
08/06/2009
Por Georgina Cordeiro*
Em Julho de 1997, o MST, em parceria com entidades como a Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, Fundo das Nações Unidas para a
Infância – UNICEF, Organização das Nações Unidas para Educação,Ciência
e Cultura -UNESCO e Universidade de Brasilia – UNB, realizou o I
Encontro Nacional de Educadores e Educadoras da Reforma Agrária, I
ENERA.
Após esse evento, um grupo de pessoas representantes destas entidades e
de outras universidades ampliou as reflexões acerca da educação do meio
rural, e, entre outras ações, articulou-se a criação de um programa
vinculado ao Governo Federal, via Ministério do Desenvolvimento
Agrário, chamado de Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária –
PRONERA, que desde 1998 passou a apoiar e estabelecer parcerias com
Instituições de Ensino Superior públicas, para a oferta de cursos de
Alfabetização, Escolarização fundamental e profissionalizante em nível
médio e superior, destinado às pessoas assentadas de Reforma Agrária,
até aquele momento, sem oportunidade de acesso à escolarização.
Ao longo de 10 anos, o PRONERA ampliou e estabeleceu ações,
oportunizando à população excluída do direito à educação, entre outros,
condições de alfabetizar-se, de dar continuidade aos estudos até chegar
ao nível de graduação e pós-graduação.
De 1998 a 2008, num movimento crescente, foi envolvendo universidades,
secretarias de educação, escolas federais de ensino médio, sempre em
parceria com os movimentos sociais e com o INCRA, numa ação conjunta
visando o desenvolvimento dos assentamentos, tomando como base a
educação.
No auge desse crescimento, em meados de 2008, surge um grande obstáculo
para a consecução de seus objetivos: a proibição de pagamento de bolsas
aos professores (quando há extrapolação de carga horária prevista nos
planos de trabalho) e alunos. Para os alunos, a bolsa garante as
despesas com a manutenção no curso, uma vez que os mesmos se deslocam
de seus assentamentos, comunidades e cidades para os centros
universitários onde acontecem os cursos e, sem essa condição, não
teriam como deslocar-se para estudar. Recentemente, muitos cursos
pararam e outros tantos nem puderam iniciar pelos impasses em relação
ao pagamento das bolsas.
Neste novo contexto, surge um movimento de busca de explicações e
saídas legais para a proibição do pagamento das bolsas. Numa das saídas
encontradas, as Universidades começaram a encaminhar projetos
procurando encaixar a carga horária nos Planos Individuais de Trabalho
dos professores, tudo na tentativa de continuar desenvolvendo a ação
principal: escolarização dos jovens e adultos assentados de Reforma
Agrária, como direito garantido pela Constituição e com vistas ao
desenvolvimento dos assentamentos e a valorização da agricultura
familiar, dando condições para a permanência do homem no campo.
O que distingue e dá importância à forma como vinha se desenvolvendo as
ações do PRONERA, chama-se de parceria. Essa parceria entre movimentos
sociais e universidades vem fomentando a criação de grupos de pesquisa
em educação do campo, inserindo o tema na pauta de várias universidades
espalhadas pelo país.
Neste ano, o Ministério do Desenvolvimento Agrário/INCRA, contribui
numa operação que ocasiona o desmonte do PRONERA. A começar pelo corte
no orçamento de 2009, inviabilizando grande parte da execução dos
projetos em andamento e de novos já aprovados pela Comissão Pedagógica.
A segunda ação foi divulgada através de circular em abril, endereçada
aos superintendentes regionais, determinando a suspensão da execução de
cursos via convênio, apontando como possível apenas a contratação via
licitação.
Este fato descaracteriza profundamente o Programa, naquilo que ele tem
de específico e único, a parceria, que envolve o trabalho conjunto e a
construção coletiva entre governo e sociedade civil . Executar cursos
via licitação e contrato é negar toda a proposta pedagógica que vem
sendo desenvolvida pelas instituições de ensino.
Com as medidas assumidas pelo INCRA/MDA: corte no orçamento, não
atendimento aos movimentos sociais e a desconsideração de toda a
trajetória que respeitáveis instituições públicas de ensino superior
vêm desenvolvendo coletivamente com os movimentos sociais, corre-se o
risco de inviabilizar o Programa como política pública de atendimento
ao direito à educação das populações assentadas da Reforma Agrária.
* Georgina Cordeiro é professora do Departamento de Pedagogia da Universidade Federal do Pará (UFPA).