O PROBLEMA DE PORTUGAL NÃO ESTÁ SÓ NO ESTADO

O PROBLEMA DE PORTUGAL NÃO ESTÁ SÓ NO ESTADO

Por Sérgio Aníbal

Eillen Zhang, analista da Standard & Poor”s, diz que Portugal continua a ser candidato ao recurso ao fundo.

Quando é que poderemos esperar uma decisão sobre o rating português? Assim que se realizarem as cimeiras europeias? 

Esperamos resolver a actual análise do rating português dentro dos próximos dois meses. A discussão em torno do estabelecimento do mecanismo de estabilidade europeu (MEE) é um dos factores-chave. Teremos de analisar todos os detalhes do mecanismo antes de chegarmos a uma conclusão e isso pode levar algum tempo.

No relatório que publicou ontem, é bastante claro que um acordo em relação ao MEE não salva Portugal de uma descida de rating. Porquê?

Há duas características do MEE que é proposto que são prejudiciais para os detentores dos títulos de dívida pública portuguesa. Os empréstimos do MEE podem ser condicionados a uma reestruturação da dívida pública já existente e o pagamento da dívida ao MEE pode ter prioridade em relação às dívidas ao mercado. Por isso, podemos baixar o rating de Portugal durante os próximos dois meses, se concluirmos que o modelo proposto para o MEE for confirmado pelo Conselho Europeu, já que consideramos que Portugal continua a ser um candidato provável a recorrer ao mecanismo.

Até agora, Portugal tem sido capaz de obter fundos no mercado, com níveis de procura confortáveis. O que é que a leva a dizer que Portugal pode ver-se forçado a avançar para o fundo?

Não é apenas o Estado que precisa de se financiar nos mercados internacionais. Também os bancos e as empresas portuguesas. As necessidades externas de financiamento de Portugal estão estimadas a um nível bem acima dos 200 por cento das receitas correntes para 2011, um dos níveis mais altos da zona euro. Os bancos continuam dependentes do financiamento de curto prazo do BCE e várias empresas públicas estão também sob forte pressão de liquidez. Se as restrições ao financiamento externo se mantiverem, o Governo terá de recorrer ao fundo de estabilidade financeira europeu para evitar uma ainda maior contracção económica.

Neste momento, o que é que pode salvar Portugal de uma descida de rating?

A discussão ao nível europeu é o factor-chave. Mas é apenas metade da história. Se o Governo continuar com o seu programa de consolidação orçamental e concretizar reformas estruturais, os défices encurtam. Outro factor importante é a disponibilidade de financiamento externo: vendas de activos, acesso à liquidez do BCE e emissão de títulos como os que recentemente foram testados pelos bancos, por exemplo. Tudo isso pode contribuir para Portugal garantir as suas necessidades de financiamento.

 

FONTE: http://economia.publico.pt/Noticia/o-problema-de-portugal-nao-esta-so-no-estado_1483111

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