Movimento de jovens inicia ações contra torturadores da ditadura
Movimento de jovens inicia ações contra torturadores da ditadura
Em Belo Horizonte (MG), cerca de 70 pessoas participaram de manifestação em frente à residência do torturador Ariovaldo da Hora e Silva, no bairro da Graça, na manhã desta segunda-feira (26). Com faixas, cartazes e tambores, os jovens denunciaram as ações de Ariovaldo durante a ditadura militar. O objetivo é informar e conscientizar a população vizinha ao criminoso. Eles também distribuíram cópias de documentos oficiais do DOPS, com relatos das sessões de tortura com a participação de Ariovaldo.
Os vizinhos se mostraram surpresos com o fato do Ariovaldo ter sido torturador. “Não sabia que o Seu Ari era um torturador. Tenho na família um caso de perseguido pela ditadura e vou divulgar isso”, afirmou um morador da região. O denunciado permaneceu em casa ouvindo e assistindo a manifestação, tendo aparecido na janela por alguns segundos.
O Levante Popular da Juventude realiza em várias capitais do país ações simultâneas de denúncia de diversos torturadores que continuam impunes. Os manifestantes apoiam a Comissão da Verdade e exigem a apuração e a punição sobre os crimes cometidos pela ditadura militar.
O caráter das ações, conhecida como “escracho”, baseia-se em ações similares as que acontecem na Argentina e no Chile, em que jovens fazem atos de denuncias e revelações dos torturadores que continuam soltos e sem julgamento sobre suas ações durante a ditadura militar.
Quem é Ariovaldo
Ariovaldo da Hora e Silva foi investigador da Polícia Federal, lotado na Delegacia de Vigilância Social como escrivão. Delegado da Polícia Civil durante a ditadura, exerceu atividades no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) entre 1969 e 1971, em Minas Gerais.
Ariovaldo consta na obra Brasil Nunca Mais (Projeto A), acusado de envolvimento com a morte de João Lucas Alves e de ter praticado tortura contra presos políticos. Foram vítimas dele Jaime de Almeida, Afonso Celso Lana Leite e Nilo Sérgio Menezes Macedo, entre outros.
Na primeira comissão constituída para tratar do recolhimento dos documentos do DOPS ao Arquivo Público Mineiro (APM), em 1991, ele foi designado para representar a Secretaria da Segurança Pública do Estado de Minas Gerais (SESP). Em 1998, foi Coordenador de Informações da Coordenação Geral de Segurança (COSEG).
Levante Popular da Juventude
O Levante Popular da Juventude é um movimento social organizado por jovens que visa contribuir para a criação de um projeto popular para o Brasil, construído pelo povo e para o povo. Não é ligado a nenhum partido político.
Com caráter nacional, o movimento se propõe a articular jovens, militantes de outros movimentos ou não, interessados em discutir as questões sociais e colaborar para a organização popular. Tem como objetivo propiciar que a juventude tome consciência da sua história e da realidade à sua volta para transformá-la.
O Levante organiza a juventude para fazer denúncias à sociedade, por meio de ações de Agitação e Propaganda. Não há bandeiras previamente definidas. A luta política se dá pelas pautas escolhidas pelos próprios militantes, que realizam atividades de estudo e debates, sistematicamente, por todo o país.
No Manifesto Levante Contra Tortura, o movimento reproduz o poema de Pedro Tierra, que diz: Mas ninguém se rendeu ao sono/ Todos sabem (e isso nos deixa vivos):/a noite que abriga os carrascos,/abriga também os rebelados./ Em algum lugar, não sei onde,/ numa casa de subúrbios, / no porão de alguma fábrica/ se traçam planos de revolta.
E convida “a juventude e toda a sociedade para se posicionar em defesa da Comissão Nacional da Verdade e contra os torturadores, que hoje denunciamos e que vivem escondidos e impunes e seguem ameaçando a liberdade do povo. Até que todos os torturadores sejam julgados, não esqueceremos, nem descansaremos”.
De Brasília
Com informações do Levante Popular da Juventude
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=179112&id_secao=8