MILHÕES DE SUDANESES DO SUL FORAM ÀS URNAS
MILHÕES DE SUDANESES DO SUL FORAM ÀS URNAS
Milhões de sudaneses do Sul foram, ontem, às urnas para decidir, em referendo, se a região se torna independente e ganha estatuto de país ou se continua a depender do Governo de Cartum, liderado por Omar Bashir.
Nas assembleias de votos, em Juba, capital do Sudão Sul, viam-se, desde as primeiras horas, longas filas e faixas com os dizeres: “A Última Marcha para a Liberdade”.
O presidente da região autónoma do Sudão Sul, Salva Kiir, que votou na capital, no mausoléu de John Garang, a histórica figura que liderou a rebelião do Sul contra o Norte, pediu às forças de segurança que protejam os eleitores.
Salva Kiir estava acompanhado do presidente do Bureau do Plebiscito do Sul, Chan Reec Madut.
O referendo é fruto dos acordos de paz realizados em 2005, que encerrou a guerra civil mais longa da África, causada pelo petróleo e pelas diferenças étnicas entre a maioria muçulmana do Norte e o Sul, onde a maior parte da população segue o cristianismo.
No Norte, a hipótese de perda de um quarto do país e a maior porção do seu petróleo foi recebida com resignação.O Presidente sudanês, Omar Hassan al-Bashir, que fez campanha pela unidade do país, tem feito declarações cada vez mais conciliatórias e, já este mês, prometeu juntar-se “à festa da independência”, caso seja esse o desfecho da votação.
O Presidente norte-americano afirmou, no sábado, que um referendo pacífico e organizado pode ajudar o Sudão a voltar a ter relações normais com os Estados Unidos, mas advertiu que se o pleito for caótico pode haver mais isolamento.
Ambos os lados estão a negociar, há meses, as formas de divisão das receitas do petróleo, principal motor das suas economias, no caso do resultado do referendo ditar a divisão do país.
O Sul também tem de enfrentar as rivalidades étnicas internas e resolver uma disputa com o Norte sobre o controle da região de Abyei, onde houve, na sexta-feira e no sábado, combates envolvendo nómadas árabes.
Combates na região de Abyei
Nómadas árabes armados entraram em confronto com tribos, ontem, pelo terceiro dia seguido, na disputada região sudanesa de Abyei, localidade petrolífera que constituiu o principal motivo para a guerra entre o Sul e o Norte do país, por ambos os lados a considerarem como seu território.
Segundo a Agência Reuters, ainda não se sabe exactamente o número de vítimas, mas testemunhas dizem que houve muitas baixas em ambos os lados.
O administrador-chefe de Abyei, Deng Arop Kuol, que é do Sul, disse à Reuters que combatentes árabes da tribo Misseriya atacaram a vila de Maker por volta do meio-dia local.
Os ataques anteriores ocorreram na aldeia vizinha de Miokol, causando um morto na sexta-feira e um número desconhecido de feridos no sábado, segundo o administrador.Mohamed Omer al-Ansary, um alto oficial da Misseriya, afirmou que os seus homens se tinham envolvido em confrontos ontem e no sábado, mas insistiu que eles foram atacados primeiro por soldados do Sul.
“Houve uma emboscada e duas pessoas da Misseriya foram mortas”, afirmou, acrescentando que os cidadãos do Sul estavam a tentar impedir que os nómadas alimentassem os seus animais.Um porta-voz do Exército do Norte confirmou que os confrontos aconteceram entre as tribos Misseriya e Dinka, mas negou qualquer envolvimento das Forças Armadas.
Tanto o Norte como o Sul do Sudão reivindicam Abyei, território petrolífero situado na região central do país, na fronteira comum usada tanto pela Dinka Ngok do Sul, como pelos nómadas árabes da Misseriya, ligada ao Norte.
O estatuto da região não foi definido no acordo de paz de 2005, que pôs fim à guerra civil e estabeleceu o plebiscito de ontem.Analistas dizem que esta lacuna poderá dar lugar a uma nova guerra, no caso de o referendo ditar a separação das duas regiões.
FONTE: http://jornaldeangola.sapo.ao/13/67/milhoes_de_sudaneses_do_sul__foram_as_urnas