Mesa-redonda aborda impactos históricos e geográficos no patrimônio maranhense
Mesa-redonda aborda impactos históricos e geográficos no patrimônio maranhense
A Mesa-redonda fez parte da IX Semana de Geografia da UFMA, que ocorre até esta sexta-feira
SÃO LUÍS – Uma mesa-redonda sobre Geografia, História e Turismo no Maranhão, coordenada pela professora do Instituto de Geociências (IG-UNICAMP), Maria Tereza Duarte Paes, contou com a participação dos professores do departamento de Geociências da Universidade Federal do Maranhão, Antônio José de Araújo Ferreira e Marcelino Silva Farias Filho. O evento abriu espaço para interação entre duas áreas do conhecimento, história e geografia, disciplinas que se entrelaçam em meio às discussões sobre patrimônio e território.
O conceito de patrimônio cultural, histórico e natural foi destacado, sobretudo, porque o Maranhão é rico em espaços considerados patrimoniais, como as manifestações populares e o acervo arquitetônico. Para o professor Antônio José de Araújo Ferreira, a concepção sobre patrimônio muda de acordo com as transformações sociais e políticas. O que hoje é valorizado, já pode ter sido algo irrelevante em outro tempo.
A valorização de espaços territoriais, como as praias de São Luís e o Centro Histórico, é um meio de vender imagem utilizando o turismo, o que cria lucro para as instituições governamentais e privadas. Mas por outro lado, enquanto se tenta, de forma precária, manter esse patrimônio, a maioria das pessoas é isolada de seus ambientes, processo mais conhecido como segregação espacial, levantado pelo professor Marcelino Silva Farias Filho.
O professor Marcelino ressaltou durante a Mesa que já passou por um processo de urbanização o que hoje é valorizado no Centro Histórico, seguindo o exemplo do Rio de Janeiro, que teve seus prédios antigos demolidos para dar lugar à ‘modernidade’, nos moldes europeus, pois os casarões eram considerados inestéticos na época. Com a ‘urbanização’ do centro da cidade, lugares considerados inabitáveis foram sendo ocupados de forma irregular, pois em locais desenvolvidos a presença do pobre não era bem-vinda, eles eram sinônimo de doenças e criminalidade. Com o aumento dos impostos nessas áreas nobres, o povo teve que se retirar para as periferias, criando bairros em lugares alagadiços, íngremes, com péssima infraestrutura. No Rio de Janeiro, por exemplo, a urbanização do centro levou o povo para os morros.
“A segregação espacial aconteceu na medida em que o governo via o povo pobre como uma mancha no espaço, que não atrairia turistas. Eles não queriam a convivência insalubre, pobre e rico em um mesmo lugar. Isso causou a ocupação de espaços geográficos, que acarretaram problemas naturais, sociais e culturais,” frisa Marcelino Silva Farias.
Em São Luis, a modernização não foi consolidada devido à falta de condições financeiras dos donos dos prédios. Muitos edifícios não foram trocados por construções modernas e hoje fazem parte do Patrimônio Histórico da Humanidade. Isso leva a perceber que valorização, tanto do espaço geográfico como da cultura e da história, muda de acordo com as transformações das visões de mundo das sociedades.
Ao fim da discussão, a coordenadora da Mesa, Maria Tereza Duarte, ressaltou que o turismo foi pouco falado, o que para ela demonstra que há poucas políticas públicas de preservação do turismo, pois se fala em desenvolvimento, mas as praias estão poluídas, os casarões degradados, o meio ambiente sendo devastado para construção de projetos como a Via Expressa, que vai cortar uma área de preservação ambiental. Na sua opinião, é necessário olhar o território criticamente. A visão em relação ao patrimônio é mutável. “Os sítios históricos que sobreviveram e hoje são preservados eram considerados à margem do moderno, do desenvolvimento, assim como parte da população, que foi direcionada para a periferia”, finaliza.
Após a mesa-redonda, o professor Marcelino Farias levou os participantes a uma visita técnica no centro histórico de São Luís, para mostrar algumas modificações que a cidade sofreu no período de urbanização. Há prédios mais ‘modernos’ que dividem espaço com os casarões antigos, mostrando uma tentativa de mudança que, por questões econômicas, não foi bem sucedida e por questões históricas e políticas faz parte de um acervo único. A IX Semana prossegue até esta sexta-feira (14). Veja a programação completa no site:http://www.cageoufma.com.br/eventos.html.