LIBERDADE DE IMPRENSA NA ARGENTINA É TEMA DE SEMINÁRIO EM SÃO PAULO
LIBERDADE DE IMPRENSA NA ARGENTINA É TEMA DE SEMINÁRIO EM SÃO PAULO
Jornalistas argentinos dizem que liberdade de imprensa não está ameaçada.
Eles alegam que há, entretanto obstáculos ao trabalho de comunicação.
Thiago GuimarãesDo G1, em São Paulo
A liberdade de imprensa na Argentina e os embates do governo Cristina Kirchner com o grupo Clarín, principal conglomerado de mídia do país vizinho, foram tema de debate na tarde desta quinta-feira (25) em São Paulo, em seminário promovido pela TV Cultura.
Embora com diferentes opiniões sobre a nova regulação do setor impulsionada por Cristina, os dois jornalistas argentinos presentes ao debate concordaram que a liberdade de imprensa no país não está ameaçada, embora haja obstáculos ao trabalho dos jornalistas.
Para Pablo Mendelevich, do jornal “La Nación”, três fatos afetam negativamente o trabalho dos profissionais e dos grupos de imprensa argentinos: a distribuição arbitrária das verbas de publicidade pelo governo Cristina, a dificuldade de contato com integrantes do governo para obtenção de informações e a inexistência no país de uma lei de acesso à informação, para que jornalistas possam, por exemplo, requisitar dados governamentais à Justiça.
“Não há uma perseguição clássica contra meios e jornalistas que criticam o governo, mas uma perseguição não tradicional”, afirmou Mendelevich.
Guerra ao Clarín
O governo Cristina Kirchner mantém várias frentes de confronto com a mídia no país, sobretudo com o grupo Clarín. A relação da Casa Rosada com a maior grupo de comunicação argentino se deteriorou a partir do conflito tributário do governo com o setor rural, em 2008. Na ocasião, o governo se ressentiu da cobertura feita pelo grupo acerca do confronto que motivou bloqueios de rodovias por ruralistas e prejudicou o abastecimento de alimentos em várias regiões, impactando a popularidade de Cristina.
Desde então, o governo aprovou uma nova Lei de Serviços Audiovisuais que atinge em cheio os interesses do grupo Clarín, por, entre outros fatores, limitar o número de licenças de TV a cabo, um dos principais negócios do conglomerado. Hoje a lei está em vigência parcial, pois determinados pontos são contestados na Justiça, como o que obriga o Clarín a se desfazer de alguns negócios.
Em outras frentes, a gestão Cristina suspendeu a licença do provedor de internet do Clarín, anulou a fusão das empresas que formavam a operadora de TV a cabo do grupo e busca retomar o controle da firma que produz papel-jornal no país – hoje uma sociedade entre estado, Clarín e o grupo do jornal “La Nación”.
Para Mendelevich, a disputa na Argentina é concebida como luta do bem contra o mal pelo governo, que associa o grupo Clarín e seus jornalistas à oposição. O colunista defendeu maior profissionalismo na prática jornalítica no país, e criticou colegas que se veem primeiramente como militantes.
Benefícios na nova lei de mídia
O contraponto a Mendelevich veio da jornalista María Eugenia Ludueña, que destacou pontos positivos na nova regulação da mídia eletrônica proposta pelo governo, lembrando o caráter democrático da legislação, aprovada pelas duas Casas do Congresso em 2009.
Citou como benefício a previsão de reserva de 33% do espectro da radiodifusão para entidades sem fins lucrativos. “Na Argentina há que se distribuir o poder comunicativo na sociedade.”
Embora tenha reconhecido a falta de critérios na distribuição da publicidade federal, a jornalista argumentou que há meios de comunicação no país que são parte da oposição, e que muitas denúncias contra o governo veiculadas na mídia possuem conotação política.
A conclusão do debate se deu em torno da ausência de certezas no curto prazo sobre o cenário da política e da comunicação argentinas, cenário agravado após a morte, no mês passado, do ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), referência da política nacional.
“Ninguém sabe como vai continuar”, disse Ludueña.