Europa precisa retomar reformas deixadas para trás, diz indiano
Europa precisa retomar reformas deixadas para trás, diz indiano
MARIANA CARNEIRO
DE SÃO PAULO
Para além do debate entre austeridade fiscal e crescimento econômico, o indiano Raghuran Rajan, que foi economista-chefe do FMI (Fundo Monetário Internacional) e hoje leciona na Universidade de Chicago, sugere que os países europeus avancem em reformas estruturais prometidas e não levadas adiante.
Para Rajan, para recuperar o crescimento, os europeus têm que reduzir os custos de produção, o que passa pela flexibilização de leis trabalhistas e mudanças na Previdência Social.
“Os trabalhadores ganham muito em relação à sua produtividade. Quem vai investir na Espanha, em Portugal. na Grécia e até na França com esses custos?”, afirma.
Rajan é crítico do remédio estímulos para se resolver os problemas da região.
“Na Europa acreditam que, com estímulos fiscais, voltaremos ao mundo de antes da crise, que era um lugar perfeito”, afirma. “Mas a verdade é que o mundo pré-crise tinha grandes desequilíbrios, principalmente de distribuição de renda e de riqueza”.
Para o economista, é difícil que a Alemanha aceite rever o pacto fiscal, uma vez que passou por essas mesmas “doloridas” reformas nos últimos 20 anos. Por isso, diz ele, ganhou competitividade frente os demais.
“Os europeus dizem que não possível cortar gastos, que é preciso manter a qualidade de vida. Infelizmente, os mercados não parecem mais querer financiá-los. Então o que pretendem fazer agora?”, questiona. “O que se vê na Europa há dez anos é o adiamento de reformas, especialmente nos serviços e em áreas que gerariam mais competitividade”.
Rajan esteve em São Paulo para o lançamento de seu livro “Linhas de Falha” (editora Bei, 416 páginas), sobre a crise de 2008. A versão brasileira tem o prefácio do ex-ministro da Fazenda Pedro Malan. Em palestra para clientes do Banco Itaú, Rajan aproveitou para lembrar que o sacrifício vivido pelos europeus já passou por aqui.
“Alguns europeus dizem que estão fazendo apertos fiscais enormes. Mas isso é algo que já foi feito em vários países, inclusive na América Latina. Não é algo jamais feito por um país no mundo”, critica Rajan.
