CRISE AMBIENTAL OU CIVILIZACIONAL? PALESTRA DE HENRIQUE CORTEZ
CRISE AMBIENTAL OU CIVILIZACIONAL? PALESTRA DE HENRIQUE CORTEZ, NA 1A SEMANA INTERINSTITUCIONAL DO MEIO AMBIENTE
Cortez quer debater conceito de desenvolvimento – Para cientista social, crise ambiental é resultado do sistema fordista
“As pessoas não podem ser responsabilizadas pelo que elas não conhecem.” Com essa frase, o cientista social Henrique Cortez introduziu a palestra Crise Ambiental ou Civilizacional. Na visão dele, é preciso aprofundar o debate sobre o modelo de desenvolvimento que queremos para preservar a vida na Terra. “Nunca tivemos tantos meio de informação na História da Humanidade. Ao mesmo tempo, nunca tivemos tanta desinformação”, afirma.
A palestra de Cortez marcou a abertura da 1ª Semana Interinstitucional do Meio Ambiente, evento promovido em conjunto por órgãos do Poder Judiciário e pelo Ministério Público gaúcho para discutir a situação do planeta e as formas de atingirmos a tão sonhada sustentabilidade. O palestrante coordena o portal Ecodebate, um dos mais visitados da área na internet. Além disso, atua como subeditor da revista Cidadania e Meio Ambiente, publicação bimestral com tiragem de 30 mil exemplares. Reportagem de Maurício Macedo, no Jornal do Comércio, RS.
“Vivemos uma época de crises. Crise ambiental, financeira, de alimentos. O que pouca gente percebe é que elas estão associadas e fazem parte desse processo capitalista fordista, que começou com o sistema de produção introduzido por Ford (Henry, criador da fábrica de automóveis que leva seu sobrenome e criador do sistema de ‘montagem em série’)”, explica.
Cortez destaca que a base desse modelo é a produção plena para o consumo pleno. “A ideia seria fantástica se vivêssemos em um planeta de recursos ilimitados. Só que a conta não fecha.”
Além disso, ele argumenta que, para manter a roda girando, quando o consumo não cresce o esperado, é preciso que haja o desperdício. “Tudo o que é produzido atualmente é feito para ficar obsoleto o mais rápido possível. Por isso geramos tanto lixo”, constata.
O maior exemplo de desperdício no mundo, segundo ele, são os Estados Unidos. “A lógica dos EUA é que move o modelo. No entanto, são 258 milhões de pessoas (1) que consomem como se fossem 500 milhões”. “Seriam necessários 4,5 planetas para dar conta desse tipo de consumo norte-americano”, acrescenta.
Entre os pontos de “desinformação” que circulam na sociedade, Cortez cita um que classifica como mito: “Falam que tem gente demais na Terra e que, por isso, temos que produzir mais para alimentar a todos. A produção atual seria capaz de garantir a alimentação de nove bilhões de pessoas, que é a população estimada para 2050. Entretanto, hoje temos um bilhão passando fome. E por que isso acontece?”, questiona, para depois ele mesmo responder. “Porque o modelo cria uma espécie de apartheid social, onde uma parcela da humanidade tem que ser excluída para garantir o consumo e o desperdício proporcionado pela maioria (2).”
Mas então como mudar esta realidade, quer saber a reportagem do Jornal do Comércio? Cortez exalta as ações pontuais que vêm sendo promovidas por grupos de pessoas e entidades. E aponta um caminho simples. “É um novo modelo dos 3 Rs: respeito a si próprio, respeito pelo outro e responsabilidade pelo que se faz. Isso poderá levar a humanidade a um sistema sustentável”, conclui.
A 1ª Semana Interinstitucional do Meio Ambiente prossegue até sexta-feira com uma extensa programação. Mais informações podem ser obtidas na internet, através do site do Tribunal de Justiça: www.tjrs.jus.br.
Nota 1: Correção de informações – Leia-se: (1) 285 milhões de pessoas, (2) minoria.
Nota 2: para acessar à apresentação da palestra, no formato PDF, com 1,9 Mb, clique aqui.
EcoDebate, 09/06/2010
FONTE: http://www.ecodebate.com.br/2010/06/09/crise-ambiental-ou-civilizacional-palestra-de-henrique-cortez-na-1a-semana-interinstitucional-do-meio-ambiente/