COMUNISTAS NA ÍNDIA SE ESFORÇAM PARA MANTER SUA RELEVÂNCIA

COMUNISTAS NA ÍNDIA SE ESFORÇAM PARA MANTER SUA RELEVÂNCIA

Partido está no poder há 33 anos no estado da Bengala Ocidental.
Agora, enfrenta críticas por declínio de região que já foi centro econômico.

Jim YardleyDo NYT, em Calcutá (Índia)

A estátua de Lênin ainda está erguida perto do centro da cidade e retratos de Stálin e Marx ainda estão pendurados no hall do maior sindicato. Qualquer pessoa que duvida da dominância política – e humor da Guerra Fria – dos comunistas na Índia só precisa visitar a rua em frente ao consulado americano: há muito tempo ela foi rebatizada de “Ho Chi Min”.

Nos últimos 33 anos, os comunistas da Índia criaram uma dinastia política aqui no estado da Bengala Ocidental, realizando um dos domínios mais notáveis em qualquer democracia ao ganhar sete eleições consecutivas em todo o estado. Isso poderia parecer um momento oportuno para expandir sua influência: a Índia é um país de profundas desigualdades, com milhões de agricultores e trabalhadores necessitados e desconectados de uma economia cada vez mais capitalista.

Em vez disso, os comunistas do país estão se esforçando para permanecerem relevantes. Durante anos eles não conseguiram capturar a imaginação e o apoio das massas além dos baluartes regionais da Bengala Ocidental e do estado de Kerala. Hoje, até mesmo seu controle de três décadas sobre a Bengala Ocidental está se desintegrando, à medida que críticos os acusam de trair os campesinos e conduzindo o declínio de um estado que já foi considerado como um centro intelectual e econômico da Índia.

“Nunca pensei que escreveria contra eles”, disse Mahasweta Devi, um dos intelectuais mais famosos da Bengala Ocidental e reformista social que hoje é um grande crítico da coalizão governista da Frente de Esquerda, liderada pelos comunistas. “Políticos de esquerda estão perdendo a batalha porque não se preocuparam o suficiente em cumprir a promessa que fizeram ao povo”.

Há apenas seis anos, os comunistas eram os influentes cujo apoio permitiu ao Partido do Congresso formar um fraco governo nacional de coalizão. Porém, essa influência vem diminuindo continuamente; os comunistas foram derrotados nas eleições parlamentares de 2009 e enfrentam a grande possibilidade de perder o controle da Bengala Ocidental nas eleições do próximo ano.

Agora, o Partido do Congresso está aliado a Mamata Banerjee, exaltado líder político cujo Partido do Congresso Trinamool é considerado o favorito para remover os comunistas no próximo ano. Ao mesmo tempo, rebeldes maoístas no interior da Bengala Ocidental são uma constante fonte de agitação. Analistas atribuem o declínio dos comunistas em parte aos inevitáveis excessos de qualquer partido que ficou tanto tempo no poder.

Instituições como a polícia, escolas, universidades e hospitais se tornaram profundamente politizadas, dizem os críticos.

Entretanto, os comunistas também vêm sendo minados pelas mesmas forças políticas voláteis que reverberam em outras regiões da Índia, onde a industrialização está alimentando conflitos em relação ao controle da terra.

Dentro do Writers’ Building, o grande e desajeitado edifício de tijolo aparente, de onde os britânicos administravam a Índia colonial e que hoje serve como sede do poder na Bengala Ocidental, há a sensação nos últimos meses de que outro império está se desmoronando.
“Não acho que seja um crime estar no governo por 33 anos com o mandato do povo numa democracia parlamentar”, disse o Dr. Surjya Kanta Mishra, ministro da saúde do estado, que suspirou quando foi questionado se a coalizão de Frente de Esquerda vem sustentando o poder há tempo demais. Mas admitiu: “Há erosão na nossa base de apoio”.

De certa forma, os problemas dos comunistas estão enraizados em seu sucesso anterior. Quando uma coalizão liderada por comunistas de partidos esquerdistas assumiu o poder em 1977, eles iniciaram uma abrangente campanha que redistribuiu a terra a pequenos agricultores e codificou proteções legais para agricultores e fazendeiros arrendatários.

Hoje, aproximadamente 84% da área rural da Bengala Ocidental pertence a camponeses comuns, em comparação a uma média nacional de 43%. Politicamente, os comunistas também buscaram descentralizar o poder ao estabelecer assambleias de nível local conhecidas como panchayats, um modelo que desde então vem sendo reproduzido em nível nacional.

“Foram os trabalhadores rurais pobres e marginais que de fato ganharam o poder em áreas rurais”, disse Nirupam Sen, ministro do comércio do estado, que, como outros esquerdistas, argumenta que as novas políticas de distribuição de terra quebraram uma estrutura feudal que existia havia séculos.

No entanto, distribuir a terra em parcelas menores trouxe novos desafios, à medida que as famílias continuavam a crescer e enquanto os imigrantes chegavam à Bengala Ocidental vindos de estados mais pobres, assim como a vizinha Bangladesh. A Bengala Ocidental é uma grande produtora de arroz e outras plantações; porém, ancorar a economia na agricultura fez com que o estado escorregasse nos rankings nacionais de produção econômica.

“As propriedades estão cada vez menores”, disse Sem. “Sendo assim, qual será o próximo estágio? Temos que passar para a indústria”.

Quando os comunistas ganharam a reeleição em 2006, o ministro-chefe, Buddhadeb Bhattacharjee, fez campanha com um slogan pró-indústria, “Destino Bengala”, prometendo atrair fábricas e empregos. Desde então, autoridades do desenvolvimento afirmam que o número de empregos relacionados à tecnologia da internet já triplicou para mais de 100 mil, apesar da percepção de que o estado tenha ficado de fora da explosão econômica da Índia.

Porém, um audacioso projeto industrial, o plano de uma fábrica de automóveis para o conglomerado corporativo mais conhecido da Índia, o grupo Tata, se tornou um fracasso, quando trabalhadores rurais se revoltaram contra a aquisição da terra – e opositores políticos como Banerjee argumentaram que os comunistas tinham vendido os camponeses.

“Eles falam sobre os trabalhadores rurais, mas é o partido e o governo que tomam a terra de forma forçada”, disse Partha Chatterjee, da alta hierarquia do Trinamool, líder da oposição na Assembleia Estadual.

A fábrica da Tata foi cancelada em 2008 e mergulhou a coalizão de Frente de Esquerda em recriminações e reavaliações. Enquanto isso, os críticos culpavam a liderança comunista por um amplo colapso de governança, afirmando que a qualidade das instituições tinha erodido enquanto a lealdade e a ideologia do partido se tornaram principais.

Laveesh Bhandari e Bibek Debroy, economista que em 2009 escreveram juntos um relatório crítico, documentaram uma piora contínua no desempenho, de políticas a serviços de saúde, passando pela educação. Eles descobriram que o estado tinha piorado em índices de evasão escolar, na quantidade média de alunos por turma e nas taxas de desemprego para quem consegue receber uma educação.

“Apesar de falarem muito em igualdade e eliminação das desigualdades, o governo da Bengala Ocidental não vem conseguindo melhorar a vida das pessoas nos distritos mais negligenciados”, eles escreveram.

Os eleitores da Bengala Ocidental decidirão sobre a Frente de Esquerda no próximo ano. No meio político, Banerjee é cotado como grande favorito, embora alguns analistas considerem a máquina política comunista com sete vitórias consecutivas em todo o estado. No entanto, a perspectiva de derrota já está inspirando introspecção.

“A política marxista chegou a um momento crítico”, disse Kshiti Goswami, ministro de obras públicas e membro de um dos menores partidos da Frente de Esquerda. Ele argumentou que a Índia tinha uma “necessidade histórica” pela Frente de Esquerda, mas que seus colegas marxistas precisavam avaliar por que os comunistas tinham se saído tão mal em outros estados, em comparação a partidos baseados em castas.

“Qual é o caminho?”, ele perguntou, sugerindo que a América Latina pode oferecer pistas. “A grande pergunta é como isso pode ser feito. É por isso que este é um momento histórico”.

Tradução: Gabriela d’Ávila

FONTE: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/11/comunistas-na-india-se-esforcam-para-manter-sua-relevancia.html

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