CIMEIRA DA NATO: DEFESA ANTI-MÍSSIL NA EUROPA, UMA VELHA DISCUSSÃO

CIMEIRA DA NATO: DEFESA ANTI-MÍSSIL NA EUROPA, UMA VELHA DISCUSSÃO

A proposta do escudo de defesa anti-míssil vai ser de negociação difícil, principalmente porque relembra conceitos geopolíticos da guerra fria, e, acima de tudo, interfere com a balança de poder na Europa, e de certa forma no Médio Oriente e Norte de África, a favor da Aliança Atlântica.

A proposta da NATO e a campanha do Secretário-Geral, Anders Fogh Rasmussen, em implantar um escudo de defesa anti-míssil na Europa, tem sido alvo de muitos protestos e de grande discordância. Todavia, a ideia de depositar na Europa um sistema anti-míssil balístico, capaz de neutralizar qualquer ataque nuclear, não é recente. O antigo presidente americano George W. Bush, já havia negociado um sistema similar com a Polónia e a República Checa, acordo que depois de forte e garrida oposição por parte da Rússia, foi abandonado por Barack Obama, a favor de um consenso que servisse as duas partes. 

Foi neste contexto que Hillary Clinton propôs a Sergey Lavrov, ministro dos negócios estrangeiros da Federação Russa, carregar no botão “reset” das relações. Contudo, a NATO aparece agora como proponente máxima do escudo, aberta, no entanto, a negociações com actores externos.

A maior força de oposição ao escudo é a Federação Russa, que como potência nuclear, preza bastante o seu arsenal, e a percepção de poder que tal espólio lhe proporciona. Assim, opõe-se a este escudo argumentando que o projecto – a ser implantado na Europa –, iria reduzir significativamente a sua capacidade de retaliação nuclear, em caso de ataque por parte das forças da NATO. 

Embora esta ideia já tenha sido desmistificada por vários analistas, que defendem que o escudo não é suficiente para reduzir a capacidade retaliatória russa – devido ao elevado número de ogivas estratégicas que o país possui –, o governo mantém esta problemática em cima da mesa de negociações.


Um outro obstáculo que poderá bloquear as negociações é o facto do escudo poder ser apontado ao Irão, potência regional e inimigo número um, no que respeita a armas nucleares. Nesta matéria a NATO encontra dois opositores: a Turquia, e uma vez mais, a Rússia. A posição turca é de desconforto, não concordando que o Irão sirva de bode expiatório para a introdução de um sistema anti-míssil na Europa. Mais do que isso, a Turquia apenas concordará com o projecto caso seja implantado em todos os estados membros, para não transformar o país numa fronteira militarizada entre ocidente e oriente. 

A Rússia, por seu lado, prefere, numa primeira instância finalizar as negociações do novo START com os Estados Unidos, acordo que espera ratificação na Duma russa e no Senado americano. A Rússia discorda da avaliação da NATO, de que o Irão rapidamente conseguirá fabricar uma arma nuclear. 

A posição russa assume-se dentro de uma lógica de debate, afirmando que mesmo que o Irão possua uma arma nuclear, qualquer ataque a um estado membro da Aliança Atlântica ou à própria Rússia, seria desprovido de racionalidade, já que a retaliação seria absoluta. Fora da avaliação russa fica, no entanto, a posição de Israel, que desconfiando dos objectivos do Irão, tenta, através de Benjamin Netanyahu, mobilizar a opinião americana a favor de um ataque preventivo contra o Irão.

   

Vasco Martins

Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança (IPRIS)

FONTE: http://noticias.sapo.cv/info/artigo/1107147.html

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