BRADESCO QUER AMPLIAR PRESENÇA DE ACIONISTAS ESTRANGEIROS A 45%

O anúncio do Bradesco de que pretende lançar uma nova fornada de ADRs (recibos de ações) para venda em Nova Iorque, lastreada em 45% de suas ações com direito a voto (“ações ordinárias”), é daquelas notícias que, em geral, fazem a carreira de comentaristas econômicos que vivem de especular isto ou aquilo. O motivo é que, para lançar essas ADRs, o Bradesco necessita de uma autorização do Banco Central – mas para ampliar o limite de participação estrangeira em seu capital votante, dos atuais 14% para 45%, o Bradesco necessita de um decreto presidencial.

 

Pode ser que tenha ocorrido a alguém na direção do banco que, no momento em que o governo quer substituir – aliás, em boa hora e muito justamente – o funcionário do Bradesco que preside a Vale, seja um bom negócio trocar essa substituição por um decreto ampliando a participação acionária estrangeira. Que a coincidência do momento é algo estranha, ou que pelo menos chama a atenção, lá isso é.

 

Naturalmente, a razão porque uma questão como a participação estrangeira em um banco brasileiro está sujeita à apreciação presidencial é óbvia: são os interesses do país que estão em jogo. Sobretudo, o volume de crédito da economia, que já tem uma contribuição baixa dos bancos privados nacionais (19% do PIB) – e mais baixa ainda dos bancos estrangeiros (8% do PIB), apesar destes, dentro do país, controlarem 138 empresas financeiras e participarem do capital de 233.

 

Este foi um resultado da desnacionalização e monopolização do setor financeiro durante o governo Fernando Henrique. A situação anterior não era nenhuma maravilha creditícia – mas a entrada do capital estrangeiro no setor financeiro conseguiu piorá-la. A relação crédito/PIB caiu seguidamente até 2004 – e cresceu pouco até que o governo Lula colocasse plenamente os bancos públicos no financiamento a empresas e consumidores.

 

Apesar disso, somando-se os bancos públicos com os bancos privados nacionais e estrangeiros, assim como o crédito direcionado com o “livre”, o volume total de crédito da economia brasileira (46% do PIB) é muito inferior ao de outras economias – mesmo abstraindo-se os EUA (180% do PIB antes da atual crise), o Chile, por exemplo, tem um volume de crédito de 70% do PIB, a Alemanha, 110%, a Malásia, 100%, a Coreia do Sul, também 100%.

 

O problema principal é que, no Brasil, com os juros altos, os bancos preferem especular com os papéis da dívida pública do que fazer o que sempre foi a sua atividade – fornecer crédito a empresas e pessoas. Esse problema é mais grave nos bancos externos do que nos brasileiros. Afinal, por que os bancos estrangeiros iriam financiar o nosso desenvolvimento, se podem ganhar sem riscos, isto é, saqueando o Tesouro?

 

Portanto, a decisão de permitir uma maior desnacionalização de um banco brasileiro não é um problema apenas da diretoria desse banco. Com toda a razão, está afeita à presidente da República.

 

Que o Bradesco não se importe com essas questões, mas apenas em “valorizar” as suas ações – que, no momento, não são das preferidas nas Bolsas, sendo classificadas como de “baixa liquidez”, ou seja, de mais difícil conversão em dinheiro do que outras – é característico de uma visão bancária e empresarial estreita, mas, infelizmente, mais ou menos inevitável. Não seria de esperar do Bradesco que zelasse pelo conjunto dos interesses nacionais.

 

Da mesma forma, que a diretoria do banco não veja riscos em perder o controle para o capital estrangeiro (embora, aí estamos no terreno das ilusões tão comuns nesse meio – por maior que o Bradesco pareça aos seus donos e administradores, não é páreo para os grandes bancos norte-americanos, europeus e japoneses).

 

Mas quem governa o país, sem dúvida, tem, necessariamente, de pensar nesses problemas mais gerais e mais relacionados com o bem comum da coletividade.

www.horadopovo.com.br

 

FONTE: http://www.cut.org.br/destaque-central/44481/bradesco-quer-ampliar-presenca-de-acionistas-estrangeiros-a-45

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