BERLUSCONI PROMETE ESVAZIAR LAMPEDUSA DE IMIGRANTES
O primeiro-ministro italiano, Sílvio Berlusconi, prometeu, nesta quarta-feira, retirar no prazo de dois a três dias todos os milhares de imigrantes ilegais que se acumulam na ilha de Lampedusa, a Sul da Sicília.
O primeiro-ministro chegou sorridente à ilha de Lampedusa e, sem deixar o governador da Sicília terminar o seu discurso, anunciou: “O Governo preparou um plano para evacuar, para libertar a ilha, num prazo de dois a dois dias e meio. Organizámos seis navios, e estamos a preparar um sétimo com um total de dez mil lugares.”
Sublinhando que o plano estava já “operacional”, Berlusconi prometeu a “evacuação de todos os imigrantes” para que “Lampedusa seja habitada apenas pelos seus moradores”.
O primeiro-ministro anunciou uma longa lista de promessas entre as quais “a limpeza da colina da vergonha”; o reembolso das despesas da ilha; a abertura de uma fábrica de peixe fresco; o desenvolvimento de um campo de golfe e até sugeriu a ilha como candidata ao prémio Nobel da paz, para compensar os seus habitantes do desembarque de imigrantes no seu território. “Lampedusa tornar-se-á um paraíso”, exclamou Berlusconi ao mesmo tempo que a audiência gritava “Sílvio! Sílvio”.
“Lampedusa é o ponto de encontro entre, de um lado, civilizações sem democracia nem liberdade, de outro, a civilização ocidental”, prosseguiu Berlusconi que na véspera classificara os imigrantes como “pobres desgraçados”.
O primeiro-ministro disse também ter comprado uma casa na ilha anunciando que, ele próprio, se tornava um habitante de Lampedusa e que a ilha iria voltar às suas condições normais.
Uma das habitantes que assistia ao discurso declarou no final à AFP que eram “tantas promessas” que “já não será mau se evacuar a ilha”.
A população de Lampedusa – de cinco mil pessoas – vive, actualmente, numa co-habitação forçada com seis mil imigrantes, situação que, Laura Boldrini, a porta-voz do alto comissariado da ONU para os refugiados em Itália classificou de “insuportável”. O porto calmo e turístico de Lampedusa, a 250 quilómetros da costa da Tunísia, transformou-se num acampamento cheio de lixo em que milhares de imigrantes têm de partilhar apenas três casas de banho, obrigando-os a defecar e urinar ao ar livre e sem qualquer possibilidade de se lavarem.
O destino dos imigrantes, maioritariamente tunisinos, não é conhecido, mas nas zonas rurais de Puglia e da Sicília foram instalados centros de acolhimento. Os media italianos noticiaram o repatriamento para a Tunísia de cerca de mil tunisinos.
A escolha foi criticada pela oposição de esquerda, pedindo “coesão” e “solidariedade”, e o político italiano Felice Belisario, do Partido Itália dos Valores, declarou que o discurso do primeiro-ministro era “menos convincente do que um vendedor de tachos e panelas roubadas”, classificando as promessas de Berlusconi como “propaganda suja”.
A Lampedusa chegaram cerca de 19 mil imigrantes, desde a queda do Presidente tunisino, Zine al-Abedine Ben Ali, no início do ano.
FONTE: http://www.publico.pt/Mundo/berlusconi-promete-esvaziar-lampedusa-de-imigrantes_1487519