Assombrada pela Grécia, Europa discute como voltar a crescer
Assombrada pela Grécia, Europa discute como voltar a crescer
DA BBC BRASIL
Líderes europeus realizam, nesta quarta-feira, uma reunião extraordinária em Bruxelas para discutir formas de estimular o crescimento econômico em um momento de instabilidade na zona do euro e de grande turbulência nos mercados por causa da situação de Grécia e Espanha.
Essa será a primeira vez que o novo presidente francês, o socialista François Hollande – que lançou o debate sobre a retomada do crescimento e vem criticando a política de austeridade fiscal da Alemanha – discutirá pessoalmente o assunto com os líderes dos 26 outros países da União Europeia.
Hollande defende o aumento de investimentos públicos para ampliar o consumo e estimular o crescimento. Mas também ressalta que o apoio ao crescimento deve se aliar à redução das dívidas dos países.
TENSÃO
No jantar desta quarta-feira, Hollande deverá criar tensões com a chanceler alemã, Angela Merkel, ao relançar as discussões sobre os eurobonds, ou seja, o lançamento de títulos de dívidas de todos os países da zona do euro em conjunto. Novos empréstimos não seriam mais contraídos por cada país e sim compartilhados entre os países europeus.
Na prática, a Alemanha pagaria pelos eurobonds – que associariam dívidas de países como a Grécia e a Espanha – taxas de juros mais altas do que as cobradas atualmente pelos títulos do país.
Hollande afirma que a iniciativa é uma maneira de facilitar o financiamento de economias fragilizadas, um “princípio de solidariedade”, mas a Alemanha teme que os eurobonds desestimulem os países a colocar suas finanças públicas em ordem.
Um porta-voz do governo alemão rejeitou na terça-feira a ideia dos eurobonds, argumentando que se trata de um “instrumento ruim em um mau momento”.
A Alemanha conta com o apoio de países como a Áustria, a Holanda, a Finlândia e a Eslováquia.
OCDE
Os eurobonds defendidos pela França contam, por sua vez, com o apoio da Itália, Espanha, Portugal e Grécia, os países mais afetados pela crise.
Mas a ideia ganhou na terça-feira um apoio de peso, o da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
“É preciso colocar tudo sobre a mesa: títulos garantidos em conjunto para recapitalizar os bancos, financiar projetos ou emissões regulares de eurobonds”, afirmou na terça-feira o economista-chefe da OCDE, Pier Carlo Padoan.
A OCDE afirma que os líderes europeus devem colocar a questão do crescimento econômico no mesmo nível de prioridade da redução das dívidas.
Segundo previsões da OCDE divulgadas na terça-feira, a zona do euro deverá registrar uma leve recessão neste ano, com queda de 0,1% do PIB. A instabilidade no bloco representa uma ameaça à economia mundial, diz a organização.
Algumas outras iniciativas defendidas pela França já obtém, no entanto, consenso na Europa, incluindo a Alemanha.
INFRAESTRUTURA
Na terça-feira, governos e parlamentares do continente fecharam um acordo para liberar 230 milhões de euros de fundos não utilizados no orçamento europeu que serão destinados ao financiamento de projetos de infraestrutura.
Essa iniciativa foi batizada de “project bonds” e poderá, se somada a financiamentos privados e recursos do Banco Europeu de Investimentos (BEI), mobilizar até 4,5 bilhões de euros, segundo a Comissão Europeia.
Hollande defende justamente a aplicação de recursos não utilizados, como fundos estruturais europeus e do BEI, para financiar projetos de infraestrutura.
Especialistas afirmam, no entanto, que essa soma inicial de 230 milhões de euros aprovada é considerada muito baixa e não permitirá estimular o crescimento econômico.
‘DESTINO DA ZONA DO EURO’
Na reunião desta quarta-feira, os líderes europeus deverão validar o acordo dos “project bonds”.
“Todas essas ideias, de aumento do capital do BEI, de project bonds para financiar obras de infraestrutura e o desbloqueio de fundos estruturais europeus não utilizados não são ruins, mas elas não resolverão o problema nos próximos meses”, diz o economista Elie Cohen.
“O destino da zona do euro está acontecendo agora”, ressalta, se referindo à possibilidade da saída da Grécia do bloco da moeda única europeia.
“A dificuldade é saber qual será a sequência das medidas. A Alemanha quer primeiro o rigor orçamentário para depois definir políticas de crescimento”, disse à BBC Brasil Benjamin Carton, economista do Centro de Estudos, Perspectivas e Informações Internacionais.
“A França propõe as duas coisas ao mesmo tempo”, diz Carton, acrescentando que a reunião desta quarta deverá resultar em um “acordo mínimo para salvar as aparências” no atual cenário de risco de contágio causado pela Grécia.
As discussões na reunião extraordinária desta quarta serão apresentadas na Cúpula de líderes europeus, em 28 e 29 de junho.