Alemanha está assustada com bancarrota da Grécia
Alemanha está assustada com bancarrota da Grécia
A chanceler alemã, Angela Merkel, acredita ser crucial evitar um colapso na Grécia porque as consequências são altamente arriscadas e imprevisíveis com relação ao impacto nos bancos e na economia de toda Europa. É de “grande importância” manter junta a zona do euro, sustentou.
O receio não se explica pela importância da economia grega, que representa apenas 2% da zona do euro. O problema é o chamado efeito dominó, ou seja, o calote da Grécia, que necessariamente deve ser acompanhado do abandono do euro e resgate do dracma (moeda do país, a mais antiga do mundo, que foi substituída pela moeda comum), tende a ser seguido por outros países, como Portugal, Espanha e mesmo a Itália, cuja dívida é sete vezes superior à grega. Neste caso, estaria instalado o pânico no sistema financeiro e o euro não mais sobreviveria com sua atual feição.
Elogio ao arrocho
Ao falar em uma conferência econômica regional, organizada pelo seu partido, Merkel elogiou os esforços gregos de austeridade e reforma nos últimos dias, mas pediu que a zona do euro abrace a consolidação orçamentária e as regras de déficit para ajudar a área da moeda comum a permanecer unida.
Esse tipo de elogio aos sacrifícios impostos à classe trabalhadora pela troika, com a cumplicidade do governo grego, vem despertando críticas e forte repulsa no interior da Grécia. Transparece no comentário da chanceler o velho espírito imperialista da Alemanha e o assalto à soberania nacional grega.
Pimenta no olho alheio
Merkel rebateu as críticas de que a Alemanha está apenas defendendo a reforma da casa alheia, ou em outros países da zona do euro porque sua economia está em boa forma. “Tal crítica é um completo mal-entendido”, disse. “Tudo diz respeito ao futuro da Europa”, emendou.
A posição da líder alemã é política, mas a razão está com os críticos. Enquanto a Grécia está há mais de quatro anos em recessão, o PIB da Alemanha cresceu 3,1% em 2011, apesar da crise, um desempenho melhor do que o verificado no Brasil. A taxa de desemprego na Alemanha também é relativamente modesta, de 6,8%, e contrasta francamente com os índices alarmantes da Espanha (23%), Grécia (20,9%) ou Portugal (14%), entre outros.
A diferença se deve também, e quem sabe principalmente, ao fato que esses países, atolados em dívida, sob pressão ou determinação da troika (FMI, Banco Central Europeu e União Europeia), estão submetidos a receitas recessivas de arrocho fiscal. A Alemanha, na condição de credora, caminha ao largo desses sacrifícios dolorosos e recessivos, o que nos remete ao ditado: façam o que digo, mas não façam o que faço.
Dúvidas no ar
Ainda hoje, Merkel conversa com o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker. Nesta sexta-feira, 24, em carta a legisladores pedindo apoio ao último pacote de resgate à Grécia, o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaeuble, disse estar confiante que o plano para Atenas pode provocar uma mudança de curso no país, mas não existe certeza de sucesso.
“Não há garantias de que o caminho que tomamos vai levar ao sucesso”, comentou o representante do governo alemão no documento visto pela Dow Jones Newswires. Não é de admirar a insegurança. Afinal, quando a troika fechou seu primeiro acordo de “socorro” à Grécia a promessa era de que “os efeitos negativos diretos do corte de gastos sobre o emprego seriam compensados por alterações na ‘confiança’, que os cortes de gastos radicais acarretariam um aumento dos gastos industriais e de consumo”, conforme notou o economista Paul Krugman. Ocorreu o contrário, uma baita recessão e a alta espetacular da taxa de desemprego, de 12% para mais de 20%.
Segundo pacote
O Bundestag, ou Câmara Baixa do Parlamento da Alemanha, deve aprovar o acordo no dia 27 deste mês e conceder a Angela Merkel mandato no próximo encontro de líderes europeus, nos dias 1º e 2 de março.
O segundo pacote de “ajuda” aos gregos envolve 130 bilhões de euros em empréstimos, incluindo uma reestruturação da dívida que visa a reduzir o endividamento grego para cerca de 120% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2020, e inclui reformas orçamentárias e econômicas. Na verdade, o dinheiro não é para os gregos, vai direto para os bancos credores em pagamento dos juros da dívida externa.
Schaeuble repetiu que o desembolso do socorro depende de as autoridades gregas implementarem as reformas acordadas. “A Grécia tem a chave para o sucesso”, escreveu o ministro. Não é o que o povo e a classe trabalhadora do país pensam. A rejeição aos pacotes da troika cresce e sacode diariamente as ruas de Atenas.
Da Redação, Umberto Martins, com agências
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